Filmes

A protagonista Héra e a Expansão do Universo de ‘O Senhor dos Anéis’ em ‘A Guerra dos Rohirrim’

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim, a mais recente adição ao universo cinematográfico de J.R.R. Tolkien adaptado por Peter Jackson, chegou aos cinemas. Desta vez, Jackson assume o papel de produtor executivo, optando pela animação para dar vida à história. A roteirista Philippa Boyens, colaboradora de longa data de Jackson, também retornou para ajudar a desenvolver a trama. A inspiração para este filme veio do Apêndice A de O Senhor dos Anéis, que detalha um conflito entre o povo de Rohan e os Dunlendings.

Nos escritos de Tolkien, o Rei de Rohan, Helm Hammerhand, enfrenta uma batalha que leva à sua morte e à de seus filhos, Haleth e Háma. A filha de Helm, sem nome na obra original, é mencionada brevemente, mas é o ponto de partida da ação. Os criadores de A Guerra dos Rohirrim decidiram expandir o papel dessa personagem, agora chamada de Héra, e contar a história sob sua perspectiva.

Inicialmente, a escolha de Héra como protagonista gerou reações mistas entre os fãs, que questionavam por que ela havia sido colocada no centro da narrativa em vez de Helm, seus filhos ou seu sobrinho Fréaláf, o herdeiro do trono após a guerra. No entanto, para os criadores, como Boyens, essa decisão fazia sentido, não só pela falta de protagonismo feminino em O Senhor dos Anéis, mas também porque Héra se encaixava perfeitamente na trama. A falta de detalhes nos apêndices de Tolkien permitiu que a história fosse expandida para um longa-metragem.

Em entrevista, Boyens afirmou: “Acho muito importante que vocês vejam uma protagonista feminina dentro desse mundo. Acho que é hora disso”. Ela também explicou que a escolha não foi feita apenas por essa razão, mas sim porque “ela está no coração do conflito no início. Ela é literalmente a causa, de certa forma, da guerra. E ela pode carregar um pouco disso com ela”.

O diretor Kenji Kamiyama também comentou sobre a escolha de Héra, mencionando que, na animação japonesa, é comum ter uma protagonista feminina, algo mais raro nas adaptações live-action de O Senhor dos Anéis. Ele também destacou a presença de Éowyn como narradora, garantindo que as mulheres sejam bem representadas no filme. Boyens adicionou que a escolha da animação foi ideal para a cultura guerreira de Rohan, que se encaixa na tradição cinematográfica japonesa, explorando temas como “lealdade, honra, família”, “traição, ganância e ciúme”.

O desenvolvimento da personagem de Héra foi um trabalho criativo, partindo da breve menção de Tolkien: “ele [Freca] pediu a mão da filha de Helm para seu filho Wulf”. Os roteiristas construíram um arco para a personagem, mostrando-a inicialmente livre e despreocupada, mas confrontada com a realidade de que ela será casada e poderá deixar Rohan. As relações de Héra com seus irmãos e, principalmente, com seu pai, trazem uma camada humana à história, explorando laços fortes, perdas e esperança, temas presentes nos filmes originais de Jackson. No final, Héra compreende que o trono nunca foi para ela, mas sim para outros, e encontra sua liberdade.

A Guerra dos Rohirrim também expande a história das donzelas escudeiras de Rohan, mencionadas no início do filme como mulheres que pegaram em armas contra os inimigos quando os homens não puderam. Pouco se sabe sobre elas no presente de Rohan, a ponto de Lief não reconhecer o estandarte das donzelas escudeiras. Olwyn, tia de Héra, é um exemplo de donzela escudeira. Embora não seja uma tradicional, Héra se torna uma ao final do filme, lutando contra os Dunlendings e matando seu líder, Wulf, um feito originalmente atribuído a Fréaláf por Tolkien.

Nos livros de Tolkien, Éowyn se autodenomina uma donzela escudeira, habilidosa com a espada e treinada para a guerra. No entanto, não é claro quando ela entraria em batalha. A Guerra dos Rohirrim esclarece que as donzelas escudeiras entram em ação apenas como último recurso, quando não há mais ninguém para proteger o povo. Os filmes de Jackson também não explicam muito sobre as donzelas escudeiras, mas Aragorn se refere a Éowyn como uma “donzela escudeira de Rohan”. Assim como Héra, Éowyn teme ser aprisionada e não ter a chance de se provar no campo de batalha, culminando em seu confronto com o Rei-Bruxo de Angmar na Batalha dos Campos de Pelennor em O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. Héra, por sua vez, passa por uma transformação durante sua jornada, permitindo que o público a veja assumir o seu poder.

A expansão do papel de Héra não é o primeiro caso de protagonismo feminino aumentado nas adaptações de Tolkien. Arwen teve um papel mais ativo nos filmes de Jackson, especialmente em A Sociedade do Anel, substituindo o elfo Glorfindel para levar Frodo em segurança para Valfenda. Embora cenas de Arwen na batalha de Helm’s Deep em As Duas Torres tenham sido filmadas, foram cortadas para manter a personagem em Valfenda, fazendo mais sentido para a trama.

Apesar da bilheteria não ser tão expressiva, A Guerra dos Rohirrim demonstra o esforço dedicado à produção. Espera-se que não impeça outros cineastas de expandir o mundo de Tolkien e que o público aprecie o trabalho dedicado ao protagonismo de Héra.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim está atualmente em exibição nos cinemas.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: [email protected]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fechar

Permita anúncios para apoiar nosso site

📢 Desative o bloqueador de anúncios ou permita os anúncios em nosso site para continuar acessando nosso conteúdo gratuitamente. Os anúncios são essenciais para mantermos o jornalismo de qualidade.