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A saga de ‘Cry Macho’: De Schwarzenegger a Eastwood, uma jornada de quase 50 anos

Em Hollywood, algumas produções cinematográficas levam um longo tempo para chegar às telonas, mas poucas jornadas foram tão tortuosas e irônicas quanto a de Cry Macho. O filme passou quase meio século transitando entre estrelas, antes de finalmente parar nas mãos de Clint Eastwood, então com 91 anos. O mais surpreendente é que o papel do protagonista, um tipo machão, foi inicialmente destinado a ninguém menos que Arnold Schwarzenegger, ex-governador e astro de ação. O anúncio de sua escalação ocorreu em 2011, mas circunstâncias pessoais o forçaram a desistir do projeto.

Embora a história tivesse potencial por abordar um tema pouco explorado – um sujeito machão lidando com seu passado após perder tudo – a execução do filme resultou em um fracasso de bilheteria. Escolhas de elenco inadequadas e problemas de ritmo parecem ter prejudicado o sucesso do longa. Talvez, os muitos obstáculos enfrentados por Cry Macho desde o início indicassem que essa história não era para chegar às telas. No entanto, os bastidores da produção permanecem fascinantes e merecem uma análise mais detalhada.

A trama começa nos anos 1970, quando o escritor N. Richard Nash escreveu um roteiro que foi rejeitado duas vezes pelo estúdio 20th Century Fox. Em seguida, Nash fez algo inesperado: transformou o roteiro em um romance. O sucesso do livro, em 1975, levou a um momento de consagração quando Nash vendeu o mesmo roteiro, palavra por palavra, para um estúdio que o havia rejeitado anteriormente. A tortuosa trajetória de Cry Macho até chegar às telas é uma história de Hollywood por si só. Em 1988, Clint Eastwood teve seu primeiro contato com o projeto quando o produtor Albert S. Ruddy lhe ofereceu o papel principal. Em uma reviravolta irônica, Eastwood recusou para interpretar Harry Callahan pela última vez em Dirty Harry na Lista Negra – uma decisão que levaria mais de três décadas para se concretizar.

Os anos 1990 testemunharam outro falso começo quando Roy Scheider tentou trazer a história à vida em 1991, mas essa produção fracassou durante as filmagens no México. Talvez o “e se” mais intrigante tenha surgido em 2003, quando Arnold Schwarzenegger se encontrava em uma encruzilhada na carreira. O astro de ação teve que escolher entre dois projetos: um remake de Westworld (que mais tarde se tornaria uma série da HBO) ou Cry Macho. O “Carvalho Austríaco” escolheu o western, mas, desta vez, a política interferiu. A bem-sucedida campanha de Schwarzenegger para governador da Califórnia colocou o projeto na geladeira mais uma vez. O projeto permaneceu inativo até 2011, quando parecia finalmente ganhar impulso real. No Festival de Cannes daquele ano, foi anunciado que Arnold Schwarzenegger assumiria o papel principal, com Brad Furman na direção e o veterano produtor Al Ruddy ainda defendendo o projeto. No entanto, o destino tinha outros planos.

Em maio de 2011, a imprensa noticiou um caso que Schwarzenegger teve com a governanta de longa data, Mildred Patricia Baena, um segredo mantido por muito tempo que abalaria a vida do ator. A história por trás desse escândalo é bastante polêmica. Nove meses após o caso de Schwarzenegger e Baena, ela deu à luz um filho – menos de uma semana depois que ele e sua esposa Maria Shriver se tornaram pais de seu quarto filho, Christopher. Baena continuou sendo a governanta da família por anos, com seu filho às vezes também por perto.

O resultado do escândalo de Arnold Schwarzenegger causou uma grande mudança na carreira do ator-político e, além de se separar de sua esposa de longa data, essa polêmica também levou Schwarzenegger a interromper seus planos de trabalhar com Eastwood. Em última análise, isso levou a um atraso de quase uma década na produção de Cry Macho, o que significou que o diretor Clint Eastwood teve que voltar à prancheta para realizar sua visão criativa.

Finalmente, em 2020, Clint Eastwood assumiu tanto a direção quanto o papel principal, trazendo Cry Macho para o ponto de partida de seu envolvimento inicial no final dos anos 1980. Mas, naquela altura, o tempo já havia cobrado seu preço. Aos 91 anos, a interpretação de Mike Milo por Eastwood pareceu um tanto forçada para muitos.

Cry Macho tropeça apesar de trilhar um território familiar para seu astro e diretor Clint Eastwood e o roteirista Nick Schenk, que colaboraram anteriormente no drama significativamente mais bem-sucedido Gran Torino. Cry Macho acompanha Mike Milo, um ex-astro de rodeio decadente que concorda em resgatar o filho adolescente de seu ex-chefe no México. Os problemas do filme começam com uma exposição carregada de diálogos, antes de finalmente pegar a estrada, onde, pelo menos, o olhar do diretor Eastwood para as paisagens proporciona algum alívio visual. No entanto, a história rapidamente deriva para o que parece uma “Terra da Fantasia do Vovô”, com talvez o problema de credibilidade mais gritante sendo a atenção romântica que Mike recebe de mulheres quatro décadas mais jovens. Somando-se aos problemas de autenticidade do filme, está a habilidade quase sobrenatural de Mike com animais, o que lhe confere um status autoproclamado de Dr. Dolittle.

O jovem mexicano, Rafo (interpretado por Eduardo Minett), acaba sendo mais inocente do que o esperado, viajando para o norte com Mike e seu galo de briga chamado Macho. A jornada deles os leva a um pequeno povoado onde encontram refúgio temporário e um possível romance para Mike com a dona de uma cantina local. No entanto, o filme nunca encontra seu ritmo, misturando de forma estranha comédia envolvendo o galo, violência esporádica e tentativas de um significado mais profundo. Os pontos fortes do filme são a presença duradoura de Eastwood na tela e a atuação impecável de Natalia Traven como a dona da cantina. Infelizmente, a fala em inglês engessada de Minett prejudica a química crucial entre Mike e Rafo e resulta em atuação exagerada, enquanto a interpretação de Fernanda Urrejola como a mãe de Rafo beira o melodrama. Embora Cry Macho pretenda um entretenimento à moda antiga, ele acaba parecendo ter passado muito tempo “cozinhando” no sol mexicano.

De roteiro rejeitado a romance e de volta novamente, passando por governadores e escândalos, Cry Macho serve como um lembrete de que, em Hollywood, algumas histórias levam os caminhos mais longos para chegar às telas – mesmo que pudessem ter ficado melhor no papel. Cry Macho foi a última atuação de Eastwood como ator até o momento. Eastwood também fez uma pequena pausa antes de voltar à cadeira de diretor, mas, quando retornou, fez isso com grande estilo.

Juror #2, um suspense jurídico estrelado por Nicholas Hoult como Justin Kemp, um jurado em um julgamento de assassinato de grande repercussão que enfrenta uma revelação angustiante: ele pode ter se envolvido sem saber no crime. Essa descoberta chocante mergulha Justin em um dilema moral – ele deveria confessar e correr o risco de se incriminar enquanto potencialmente libertava um réu culpado, ou ficar em silêncio e permitir que uma pessoa inocente fosse condenada? O filme aborda temas como justiça, responsabilidade pessoal e o profundo peso do dever de jurado. Enquanto Justin luta com sua consciência, os riscos são aumentados por seu passado secreto e pela chegada iminente de seu primeiro filho. Clint Eastwood entregou uma obra-prima com seu filme, sublinhando sua habilidade em contar uma história de forma eficiente sem injetar drama desnecessário. O filme é um suspense jurídico emocionante.

Com uma carreira que abrange quase sete décadas em Hollywood, Clint Eastwood se destaca como uma das figuras mais influentes da indústria do entretenimento. Sua notável jornada começou em 1955 e, até o momento, ele acumulou 73 créditos de atuação e 45 realizações na direção. A transformação de sua carreira foi extraordinária – desde sua estreia como o pistoleiro lacônico nos westerns de Sergio Leone até sua memorável interpretação do policial rebelde Dirty Harry.

Como diretor, Eastwood criou um estilo característico, marcado por uma narrativa discreta e uma cinematografia com influência noir. Sua abordagem metódica enfatiza a narrativa visual em vez do diálogo, criando tensão por meio do desenvolvimento sutil dos personagens, em vez de exposições explícitas. Eastwood prefere histórias de azarões, e suas visões de direção distintas renderam aclamação crítica significativa. Embora muitos acreditem que Juror #2 possa ser o último filme de Clint Eastwood, há especulações de que ele já esteja trabalhando em um novo projeto. Embora os detalhes ainda estejam em segredo, os fãs devem ficar atentos às atualizações no início de 2025.

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O anúncio de sua escalação ocorreu em 2011, mas circunstâncias pessoais o forçaram a desistir do projeto, de Arnold Schwarzenegger.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: [email protected]

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