⚠️ Esta crítica contém spoilers do filme “Superman” (2025), em cartaz nos cinemas brasileiros a partir de 10 de julho.
Era difícil imaginar que, em pleno 2025, o Superman voltaria às telas com um filme que assumisse sem vergonha o otimismo, as cores vivas e o heroísmo puro dos quadrinhos — em vez de tentar transformá-lo, mais uma vez, em uma figura atormentada, sombria ou messiânica. Mas foi exatamente essa a escolha de James Gunn. E, embora corajosa, a decisão não vem sem o preço de uma narrativa desequilibrada.
Não perca nada!
Faça parte da nossa comunidade:
Sim, Superman é um bom filme. Mas é também um filme que confia demais na boa vontade do espectador, aposta alto no excesso de personagens e conceitos, e se perde ao tentar conciliar crítica geopolítica, multiverso de heróis e comédia pastelona — tudo no mesmo pacote de estreia de seu novo universo cinematográfico.
Logo de início, o filme abraça uma linguagem direta dos quadrinhos, assumindo que o público já conhece tudo que precisa: o que é Krypton, quem são os Kents, o que significa ser Clark Kent ou Superman. Gunn parte do princípio que o espectador já leu a edição #19 sem precisar ver as 18 anteriores. E talvez essa ousadia funcione para os iniciados. Mas para o público comum, há um risco real de se perder antes mesmo do clímax.
O ator David Corenswet, como Clark, entrega carisma e leveza. Sua versão do herói é gentil, quase ingênua, mas sem parecer tola. O Superman de Gunn é aquele que salva, que impede guerras antes que elas comecem, que ainda acredita que o bem pode prevalecer — mesmo que a sociedade insista em duvidar disso.
Rachel Brosnahan brilha como Lois Lane. Ela confere força e dinamismo à personagem, em um equilíbrio raro entre humor, seriedade e competência jornalística. O romance entre Lois e Clark já está estabelecido aqui, e funciona porque é sustentado por uma tensão ética e afetiva verdadeira.
Já o Lex Luthor vivido por Nicholas Hoult divide opiniões. Menos performático que suas versões anteriores, mais cerebral e, em alguns momentos, apático. O vilão parece operar no modo “low profile” do roteiro — o que por vezes funciona, mas em outros momentos, esfria o que deveria ser uma rivalidade épica.
A história se passa em um mundo em que meta-humanos já existem há 300 anos, e Superman já é figura pública há pelo menos três. Em meio a um conflito fictício entre dois países (Borávia e Jahanpur), o herói impede uma invasão militar e desperta desconfiança da opinião pública e do governo. A discussão sobre geopolítica, aliados e soberania nacional até tenta criar paralelos com o mundo real, mas esbarra na falta de sutileza e na dificuldade de integrar tudo isso com a leveza do restante da narrativa.
A trama então se divide em várias frentes: Lex tentando manipular a opinião pública, Superman lidando com sua identidade e seus afetos, o surgimento de outros heróis (como Lanterna Verde, Metamorfo, Mulher-Gavião, Senhor Incrível), uma discussão sobre excesso de meta-humanos e, claro, muita destruição.
Essa multiplicidade de subtramas enfraquece o segundo ato. O filme se espalha, e nenhum personagem além do trio principal consegue tempo suficiente de tela para se desenvolver com peso. Mesmo com bons visuais e efeitos, há um claro desequilíbrio estrutural — parecido com o que já se viu em Guardiões da Galáxia Vol. 2.
Ainda assim, o terceiro ato compensa. A ação é bem conduzida, os diálogos entre Lex e Superman ganham intensidade, e até os coadjuvantes finalmente se encaixam. É nesse momento que o filme lembra o porquê do Superman ainda importar: não por sua força, mas por sua humanidade. Clark é um herói que não quer ser adorado, mas compreendido. Que prefere conversar a esmagar. Que tem pais, cachorro (sim, Krypto está ótimo) e dúvidas reais.
O roteiro peca em alguns momentos com diálogos expositivos e piadas em excesso — marca registrada de Gunn —, mas também acerta ao mostrar que a mitologia do Superman pode ser atualizada sem perder sua essência. Essa versão entende que a verdadeira força de Clark não está em atravessar paredes, mas em continuar acreditando num mundo melhor.
Novo ‘Superman’ possui cenas pós-créditos?
Sim, há duas cenas pós-créditos. A primeira, mais curta, serve como alívio cômico. A segunda, mais longa, sugere claramente a expansão do universo DC com novos personagens e possíveis antagonistas. Não são momentos que mudam a experiência do filme, mas cumprem bem o papel de preparar terreno para o capítulo seguinte.
No fim, Superman é um bom início. Um filme imperfeito, mas necessário. Gunn quis fazer diferente — e conseguiu. Resta saber se o público, já cansado de universos compartilhados e promessas não cumpridas, ainda está disposto a seguir esse novo caminho. Porque se depender apenas da esperança do Homem de Aço, ele já fez a parte dele.