Superlotação na Maternidade Januário Cicco deixa mais de 60 mulheres nos corredores

Superlotação na Maternidade Januário Cicco deixa mais de 60 mulheres nos corredores
Maternidade Escola Januário Cicco (Mejc/UFRN), que faz parte da Rede Ebserh (Foto: Anastácia Vaz / Agecom UFRN)

A Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC/UFRN), referência no atendimento materno-infantil, está operando com 46% acima da capacidade, segundo nota oficial divulgada nesta segunda-feira (12) pela própria unidade, e se vê obrigada a absorver demandas extras que estão chegando até ela.

A superlotação não é um problema criado por MEJC — é um reflexo direto da falência de outras unidades de saúde em Natal e no interior do estado.

O resultado é grave: mais de 60 mulheres até o início da manhã de hoje aguardavam atendimento nos corredores, algumas em trabalho de parto. As imagens que circulam nas redes sociais, não divulgadas pelo Portal N10 em respeito à privacidade, mostram mulheres sentadas ou deitadas em locais improvisados, inclusive no chão.

A direção da maternidade foi clara: o cenário é provocado pela falta de profissionais em unidades de saúde que deveriam ser a porta de entrada para essas pacientes, tanto na capital quanto no interior. Ou seja, não é colapso interno — é sobrecarga externa.

A busca por atendimento decorre da falta de profissionais nessas unidades iniciais”, diz a nota da MEJC.

A MEJC integra a Rede Ebserh desde 2013 e possui estrutura de excelência: 128 leitos, 26 de terapia intensiva (UTI adulto e neonatal), 35 consultórios ambulatoriais, seis salas cirúrgicas e uma Casa da Gestante, Bebê e Puérpera. É uma das instituições com maior capacidade técnica para atendimento materno-infantil no RN, além de campo formador para cursos da área da saúde, com residências médicas e multiprofissionais.

Mas não há estrutura que suporte um volume além do planejado por tempo indefinido. Desde a última quinta-feira, 8 de maio, relatos dão conta de mulheres sendo atendidas nos corredores, sem previsão de transferência.

A direção da unidade reforça que está trabalhando para solucionar a situação e “garantir a segurança não somente das mães, mas também dos filhos que vão nascer”. Mas faz um alerta: a solução não virá de uma única unidade. É preciso ação coordenada entre todos os entes do SUS.

Falta rede, sobra abandono

O que vemos no caso da Januário Cicco é um retrato cruel de uma rede de saúde desorganizada, desequilibrada e sem comunicação efetiva. A rede hospitalar da UFRN tem feito a sua parte — investindo, formando, ampliando. Mas nenhuma maternidade universitária pode substituir um sistema de saúde municipal e estadual falho.

Enquanto mulheres dão entrada em Natal vindas de municípios sem estrutura mínima — ou de unidades de saúde da própria capital que não têm obstetras de plantão — a MEJC se vê empurrada para além da sua capacidade física e humana.

E o resultado disso? Corredores ocupados. Partos à espera. Profissionais sobrecarregados. Silêncio oficial de quem deveria coordenar o sistema.

Ampliação histórica, mas ainda distante

Em paralelo à crise, a UFRN e a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) anunciaram a ampliação mais significativa da história da maternidade, por meio da doação e cessão de terrenos que somam mais de 21 mil m² na Avenida Nilo Peçanha, bairro Petrópolis.

Com isso, a MEJC poderá expandir sua infraestrutura física, estacionamento e áreas assistenciais. O anúncio foi feito durante cerimônia de comemoração dos 75 anos da unidade, e representa uma vitória institucional.

Mas é preciso dizer: a ampliação será para o futuro. O presente está colapsado.

O que falta?

O que falta não é empenho da MEJC. Não é compromisso da direção da maternidade. Falta um plano real de contingência do sistema de saúde estadual e municipal, que possa:

  • distribuir a demanda de forma equitativa,
  • garantir obstetras em unidades descentralizadas,
  • e ter rede de retaguarda para evitar que todas as gestantes, em qualquer condição, cheguem de uma vez à Januário Cicco.

A maternidade Januário Cicco está fazendo o que pode — e além disso. A superlotação que enfrentamos é um efeito cascata de um sistema que não funciona como rede, mas como uma série de pontas soltas que empurram pacientes de um lado para o outro até que cheguem à última esperança.

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