O Jogo do Bicho é uma das práticas mais emblemáticas da cultura popular brasileira. Apesar de ser considerado ilegal desde o início do século XX, ele continua vivo no cotidiano de muitas cidades, sustentado por uma tradição que atravessa gerações. Com origem curiosa, forte presença cultural e uma situação jurídica delicada, o Jogo do Bicho permanece como um fenômeno social único no Brasil.
Neste conteúdo, vamos explorar a linha do tempo do Jogo do Bicho, desde sua criação até os dias atuais, analisando como a prática se consolidou como símbolo popular mesmo sob a ilegalidade.
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A origem do Jogo do Bicho: o zoológico de Cândido Drummond (1892)
O Jogo do Bicho nasceu no final do século XIX, mais precisamente em 1892, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
O idealizador foi João Batista Viana Drummond, o Barão de Drummond, proprietário do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. À época, para atrair visitantes e garantir a sobrevivência do zoológico, o Barão criou uma espécie de loteria informal:
- Os visitantes compravam bilhetes numerados de 1 a 25.
- Cada número correspondia a um animal.
- No fim do dia, um animal era sorteado.
- Quem tivesse o número do animal sorteado ganhava um prêmio em dinheiro.
A ideia foi um sucesso absoluto. O público adorava a emoção do sorteio, e o zoológico viu seu número de visitantes aumentar significativamente.
Resumo da primeira fase (1892):
- Origem: Rio de Janeiro.
- Criador: João Batista Viana Drummond.
- Motivação: Ajudar financeiramente o zoológico.
- Forma inicial: Loteria associada a animais.
A expansão popular: do zoológico às ruas
O sucesso do modelo foi tão grande que, rapidamente, o Jogo do Bicho ultrapassou os limites do zoológico e se espalhou pelas ruas cariocas.
Camelôs e comerciantes passaram a replicar a ideia:
- Pequenos pontos de apostas surgiram nos bairros.
- As apostas se tornaram diárias e acessíveis a todas as classes sociais.
- Novas regras foram sendo adaptadas: além de apostar no animal, começaram a surgir as apostas em grupo, dezena, centena e milhar.
Essa expansão informal tornou o Jogo do Bicho um verdadeiro fenômeno popular, especialmente entre a população mais pobre, que via nas apostas uma esperança de ganho fácil e rápido.
Primeiras tentativas de repressão e ilegalização (1900–1940)
Com a popularização do Jogo do Bicho, o Estado passou a enxergar a prática como um problema:
- 1906: A primeira tentativa oficial de proibir o Jogo do Bicho ocorre no Rio de Janeiro.
- 1915: Decreto presidencial considera a prática ilegal em âmbito nacional.
- 1941: O Decreto-Lei nº 3.688, que institui a Lei das Contravenções Penais, classifica o Jogo do Bicho como contravenção penal.
Resumo das consequências:
- Apostar no Jogo do Bicho passou a ser proibido.
- Organizar, explorar ou promover apostas passou a ser crime.
Mesmo com a repressão, o Jogo do Bicho continuou a crescer, muitas vezes sob a conivência ou a proteção de figuras políticas e policiais locais.
O Jogo do Bicho no século XX: de contravenção a fenômeno cultural
Durante as décadas de 1950 a 1980, o Jogo do Bicho atingiu um patamar ainda mais elevado:
- Organização em redes: surgiram os chamados “banqueiros do bicho”, figuras conhecidas por controlar territórios de apostas.
- Financiamento de festas populares: muitas escolas de samba no Rio de Janeiro e blocos de carnaval tinham (e ainda têm) históricos de financiamento oriundos do Jogo do Bicho.
- Aceitação cultural: o jogo passou a ser retratado em músicas, filmes, literatura e novelas.
Apesar de ilegal, o Jogo do Bicho era (e é) visto como parte da cultura popular brasileira, especialmente no Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.
O combate contemporâneo: operações policiais e resistências
Nos últimos anos, o Estado intensificou ações para combater a prática:
- Operações policiais são realizadas regularmente para desmantelar bancas clandestinas.
- O envolvimento de lavagem de dinheiro e associação com o crime organizado fez com que o Jogo do Bicho entrasse no radar da Polícia Federal em várias ocasiões.
- Mesmo assim, a repressão nunca eliminou a prática.
Em muitos locais, o Jogo do Bicho continua operando abertamente, principalmente em cidades do interior e bairros periféricos.
Jogo do Bicho na legislação atual
Hoje, o Jogo do Bicho é enquadrado na Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941):
- Artigo 58: “Explorar ou realizar, sem autorização legal, loteria ou qualquer sorteio de bens móveis.”
- Pena: multa e, em alguns casos, prisão simples.
Além disso, a Constituição Federal de 1988 reforça que jogos de azar dependem de regulamentação específica para serem legalizados — o que não ocorreu até hoje para o Jogo do Bicho.
Situação jurídica atual:
- Apostar é considerado uma contravenção (crime de menor potencial ofensivo).
- Organizar ou administrar o jogo é considerado uma contravenção agravada, com penas maiores.
O futuro do Jogo do Bicho: regulamentação ou extinção?
Com a recente movimentação para regulamentar apostas esportivas e cassinos no Brasil, cresce o debate sobre:
- Legalizar o Jogo do Bicho, regulando e tributando a prática.
- Extinguir de vez, reforçando a repressão.
Defensores da regulamentação argumentam que:
- O Jogo do Bicho é parte da cultura nacional.
- A legalização permitiria arrecadação de impostos.
- Reduziria o financiamento ao crime organizado.
Já opositores afirmam que:
- O jogo favorece a lavagem de dinheiro.
- Há riscos sociais associados à ampliação do jogo de azar.
Por enquanto, o Jogo do Bicho segue na ilegalidade, mas ainda profundamente enraizado no cotidiano popular.
Linha do tempo resumida do Jogo do Bicho
Ano | Evento |
---|---|
1892 | Criação do Jogo do Bicho no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. |
1906 | Primeira tentativa de repressão oficial. |
1915 | Ilegalização nacional do jogo. |
1941 | Classificação como contravenção penal na Lei das Contravenções Penais. |
1950–1980 | Explosão da popularidade e consolidação cultural. |
1990–2020 | Combate policial e resistências. |
2025 | Discussões sobre possível regulamentação continuam. |
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Mais que um jogo, um retrato do Brasil
A história do Jogo do Bicho mostra que nem toda prática ilegal é automaticamente rejeitada pela sociedade. Pelo contrário, o Jogo do Bicho se consolidou como uma expressão cultural viva, resistindo ao tempo e às proibições.
Seu futuro ainda é incerto: entre a repressão e a possível regulamentação, o que é certo é que o Jogo do Bicho já deixou sua marca definitiva na identidade brasileira.