Há tempos a relação entre a gestão municipal de Mossoró e o funcionalismo público não é pacífica. Mas nesta segunda-feira (12), o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Mossoró (SINDISERPUM) escalou o tom — e com palavras duras: classificou o prefeito Allyson Bezerra (SDD) como “o gestor mais perseguidor que Mossoró já teve notícia”.
A afirmação está publicada em nota oficial no site da entidade sindical e reúne uma série de críticas à condução da política de pessoal da Prefeitura. A gota d’água, segundo o texto, foi a decisão recente de aumentar a jornada de trabalho de servidores pais e mães atípicos, que até então eram beneficiados por jornada especial, assegurada para acompanhamento terapêutico de filhos com deficiência, especialmente no espectro autista.
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“Como em um pesadelo, o prefeito aumentou a jornada de trabalho para os pais e mães atípicos que tinham conseguido reduzir sua carga-horária. E com isso, ele está prejudicando as terapias e o desenvolvimento das crianças com autismo e da pessoa com deficiência”, diz a nota. O sindicato afirma que a medida contraria a propaganda oficial do próprio prefeito, que se apresentou publicamente como defensor do direito à jornada especial — e que agora recua.
As críticas do SINDISERPUM não param por aí. A nota cita mudanças nos Planos de Cargos, Carreiras e Remuneração, negativa de reajuste salarial para professores, atrasos no pagamento de plantões da saúde e exigências consideradas abusivas para licença médica de servidores adoecidos ou em acompanhamento de familiares.
Allyson também é acusado de dificultar o acesso à saúde funcional com exigências “burocráticas, desumanas e incompatíveis com a realidade do serviço público”. Uma das medidas mais criticadas foi a imposição de critérios para validação de atestados médicos, com exigência de detalhes que, segundo o sindicato, extrapolam até mesmo as atribuições do Conselho Federal de Medicina.
Em tom duro, o texto questiona: “E se o atestado médico não tiver tudo o que a gestão está determinando, eles vão negar o atestado e colocar falta no servidor?”
A tecnologia como controle — e não como solução
Outro ponto sensível levantado pela categoria diz respeito ao uso do SEI (Sistema Eletrônico de Informações), implantado pela gestão como ferramenta obrigatória para toda a vida funcional do servidor. A crítica não é à digitalização em si — mas à forma com que ela foi feita.
Segundo o SINDISERPUM, nem mesmo servidores experientes conseguem navegar adequadamente pela plataforma, que exige protocolo técnico, rapidez e acesso digital contínuo, algo nem sempre disponível a todos. “Agora imagine aquele servidor com menos instrução”, alerta a entidade.
O sistema de ponto eletrônico também virou alvo. Implantado com a promessa de eficiência, acabou gerando confusão e prejuízo. Plantões da saúde não foram pagos sob justificativa de “inconsistência no sistema”, e folhas complementares foram recusadas — deixando muitos profissionais sem remuneração por jornadas efetivamente cumpridas.
Um jovem prefeito em guerra com o próprio funcionalismo
Allyson Bezerra, que chegou à Prefeitura com forte apoio popular e imagem de renovação, enfrenta agora um desgaste crescente com os servidores públicos — justamente a base de sustentação diária da máquina administrativa. A imagem do “prefeito jovem, moderno e trabalhador” começa a se chocar com a de um gestor autoritário, refratário ao diálogo e deslumbrado com o poder, segundo os termos do sindicato.
“Aonde isto vai parar, ninguém sabe. O que Allyson, pretenso candidato a governador do Estado, quer com isto, ninguém sabe. O que se sabe é que o servidor está maltratado, sofrido e adoecendo com as medidas absurdas deste rapaz tão jovem, mas já tão deslumbrado com o poder”, afirma o texto assinado pelo SINDISERPUM.
A entidade também recorda ações judiciais promovidas contra lideranças sindicais, numa tentativa — segundo o sindicato — de calar a mobilização e intimidar a luta coletiva. E questiona o que chama de “obsessão do prefeito em atacar quem trabalha nas escolas, hospitais e unidades básicas de saúde”.
Silêncio da Prefeitura
Até o momento, a gestão Allyson Bezerra não publicou resposta oficial às acusações. Tampouco se pronunciou sobre a reversão da jornada especial para pais e mães atípicos, tema que tende a ganhar repercussão nas redes sociais, no Judiciário e — inevitavelmente — no debate eleitoral de 2026, especialmente se confirmadas as intenções do prefeito de disputar o Governo do Estado no futuro.
A pauta é delicada: envolve funcionalismo, saúde, pessoas com deficiência e direitos humanos. E pode custar caro a um prefeito que construiu sua imagem pública com base em carisma, juventude e eficiência.
Por enquanto, a gestão segue em silêncio — enquanto a categoria grita.