Renda dos potiguares cresceu acima da média nacional, diz IBGE

Melhor que em 2022? Sim. Suficiente para garantir dignidade plena? Ainda não.
Renda dos potiguares cresceu acima da média nacional, diz IBGE
Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O rendimento médio mensal real domiciliar per capita no Brasil atingiu em 2024 o maior patamar desde o início da série histórica, segundo o IBGE. Foram R$ 2.020 por pessoa, um crescimento real de 16,8% em relação a 2022. O levantamento da PNAD Contínua: Rendimento de Todas as Fontes, divulgado no dia 8 de maio, mostra que o Rio Grande do Norte também bateu recorde, atingindo R$ 1.575 por pessoa, com alta de 17,5% em dois anos.

Mas o dado estatístico — embora relevante — ainda exige uma pergunta incômoda: isso chegou ao bolso do potiguar?

Enquanto o IBGE comemora o avanço do rendimento médio em todos os estados da federação, no dia a dia o que se percebe é que esse dinheiro, mesmo com crescimento, segue aquém do que seria suficiente para garantir dignidade plena. Quando a renda per capita de um lar potiguar médio mal ultrapassa o salário mínimo, o que temos não é progresso consolidado, mas apenas um alívio temporário — muitas vezes sustentado por repasses governamentais.

Comparativo entre Brasil e Rio Grande do Norte

Segundo o IBGE, o rendimento mensal real domiciliar per capita no Brasil foi de R$ 2.020 em 2024. Em 2022, esse valor era de R$ 1.730, o que representa um crescimento real de 16,8%.

No caso do Rio Grande do Norte, o avanço foi ainda maior: passou de R$ 1.340 em 2022 para R$ 1.575 em 2024, um aumento de 17,5%.

Localidade2022 (R$)2024 (R$)Variação (%)
Brasil1.7302.02016,8
Rio Grande do Norte1.3401.57517,5

Apesar de superar a média de crescimento nacional, o rendimento per capita potiguar segue abaixo da média brasileira e muito distante dos valores registrados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O dado revela um avanço relativo, mas que não resolve as defasagens históricas da economia potiguar.

📊 Evolução salarial nas 27 unidades da Federação (2022 → 2024)

Estado20222024Aumento (%)
RondôniaR$ 1.448R$ 1.72118,9% 🌞
AcreR$ 1.119R$ 1.25912,5% 🌞
AmazonasR$ 1.036R$ 1.23118,8% 🌞
RoraimaR$ 1.363R$ 1.51311,0%
ParáR$ 1.164R$ 1.32613,9% 🌞
AmapáR$ 1.273R$ 1.50918,5% 🌞
TocantinsR$ 1.486R$ 1.72516,1% 🌞
MaranhãoR$ 897R$ 1.07820,2% 🌞
PiauíR$ 1.185R$ 1.34913,8% 🌞
CearáR$ 1.132R$ 1.2106,9%
Rio Grande do NorteR$ 1.340R$ 1.57517,5% 🌞
ParaíbaR$ 1.178R$ 1.36315,7% 🌞
PernambucoR$ 1.068R$ 1.41232,2% 🌞
AlagoasR$ 1.000R$ 1.31731,7% 🌞
SergipeR$ 1.252R$ 1.43614,7% 🌞
BahiaR$ 1.087R$ 1.34223,5% 🌞
Minas GeraisR$ 1.655R$ 1.95618,2% 🌞
Espírito SantoR$ 1.817R$ 2.06813,8% 🌞
Rio de JaneiroR$ 2.095R$ 2.42215,6% 🌞
São PauloR$ 2.281R$ 2.58813,5%
ParanáR$ 1.943R$ 2.43825,5% 🌞
Santa CatarinaR$ 2.114R$ 2.54420,3% 🌞
Rio Grande do SulR$ 2.198R$ 2.53215,2% 🌞
Mato Grosso do SulR$ 1.952R$ 2.1057,8%
Mato GrossoR$ 1.767R$ 2.23626,5% 🌞
GoiásR$ 1.715R$ 2.05920,1% 🌞
Distrito FederalR$ 3.081R$ 3.2766,3% 🏅

O Rio Grande do Norte teve a 13ª maior variação percentual do país. Estados como Pernambuco, Alagoas e Mato Grosso lideraram os avanços em termos proporcionais, reflexo também de bases muito deprimidas em 2022. O Distrito Federal, mesmo com o maior valor absoluto, teve a menor variação no período.

O papel dos programas sociais

O levantamento mostra também um avanço no impacto dos benefícios sociais. O valor médio recebido por famílias beneficiadas subiu para R$ 836, também recorde. A população com alguma fonte de renda passou a 143,4 milhões de pessoas. Já o número de brasileiros que recebem transferência de renda de programas do governo passou de 18,6 milhões em 2023 para 20,1 milhões em 2024.

A desigualdade também recuou. O Índice de Gini, que mede a concentração de renda (quanto mais próximo de 1, mais desigual), caiu de 0,518 em 2023 para 0,506 em 2024, o menor patamar desde o início da série histórica. Em 2019, era 0,544.

Realidade local: o número chegou às famílias?

Mesmo com todos os indicadores positivos, a realidade nos lares potiguares continua pressionada por um custo de vida elevado, informalidade persistente e serviços públicos frágeis. Na prática, a renda per capita de R$ 1.575 significa que, numa casa com três pessoas, o rendimento total gira em torno de R$ 4.725 mensais — um valor que, diante dos preços atuais da alimentação, energia, transporte, aluguel e saúde, dificilmente garante estabilidade.

Esse aumento na renda média é importante, mas também é preciso considerar que parte significativa desse crescimento está atrelada a repasses diretos do governo federal. Em outras palavras: houve um reforço de base, não necessariamente uma expansão da autonomia econômica.

O avanço é bem-vindo, mas não é estrutural. O RN ainda tem um dos menores PIBs per capita do país, e o mercado de trabalho segue majoritariamente informal. Diversos municípios do interior dependem de aposentadorias, pensões e do Bolsa Família para garantir o funcionamento básico da economia local.

Sem expansão industrial, sem projetos estruturantes de médio e longo prazo, e com a máquina pública estrangulada, qualquer crescimento de renda que não venha acompanhado de investimentos e transformação econômica corre o risco de ser engolido pela estagnação cíclica.

Por fim

Os números são bons, mas é preciso não confundir avanço estatístico com progresso social consolidado. O crescimento de 17,5% no rendimento per capita do RN é expressivo, histórico e deve ser reconhecido. Mas ele não basta.

Enquanto não houver um plano robusto de desenvolvimento para o interior do estado, incentivo real à economia local e enfrentamento à precarização do trabalho, esse crescimento continuará sendo insuficiente. Melhor que em 2022? Sim. Suficiente para garantir dignidade plena? Ainda não.

Fonte oficial: PNAD Contínua: Rendimento de Todas as Fontes 2024 – IBGE

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