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Grandes Atores do Cinema Japonês: Um Olhar sobre Lendas como Mifune e Nakadai

O cinema japonês possui uma rica tradição de excelência na atuação. Desde os primórdios do cinema mudo até os dias atuais, o Japão revelou alguns dos maiores atores do século XX e XXI. Muitos deles transcenderam as fronteiras nacionais, alcançando fama na Ásia, Europa e Estados Unidos.

Atores japoneses são conhecidos por sua versatilidade, brilhando em diversos gêneros, incluindo filmes de yakuza, jidaigeki (dramas históricos japoneses, predominantemente ambientados no período Edo), filmes de samurai, terror e kaiju (monstros gigantes).

Toshirō Mifune, Tatsuya Nakadai e Takashi Shimura estão entre os maiores nomes, mas muitos outros merecem reconhecimento por suas contribuições.

Kazuo Hasegawa: Uma Carreira Prolífica

Ídolo matinê, Kazuo Hasegawa iniciou sua carreira no teatro kabuki antes de entrar na indústria cinematográfica no final da década de 1920. Sua boa aparência e físico atlético o impulsionaram à fama como uma das principais estrelas de jidaigeki da década de 1930. Ao longo dessa década, Hasegawa estrelou mais de 100 filmes, com trabalhos notáveis em colaborações com o diretor Teinosuke Kinugasa. Na época, atuava sob o nome artístico Chōjirō Hayashi.

Em 1937, Hasegawa sofreu um ataque que o deixou com o rosto cortado, episódio que alguns historiadores atribuem à Shochiku como retaliação por sua saída do estúdio. Após o incidente, adotou o nome Kazuo Hasegawa. Após um declínio na década de 1940, retornou com sucesso nos anos 1950, estrelando clássicos como A História de Genji, Portão do Inferno e Os Amantes Crucificados. O ápice de sua carreira ocorreu em 1963, com A Vingança de um Ator, de Kon Ichikawa, feito em homenagem a sua 300ª atuação, onde reprisou um papel de sua trajetória inicial.

Jō Shishido: O Rei do Crime no Cinema Japonês

Assim como Humphrey Bogart em Hollywood ou Alain Delon e Jean-Paul Belmondo na França, Jō Shishido reinou como o principal ator de filmes policiais japoneses na década de 1960. Sua carreira começou nos anos 1950 na Nikkatsu, onde atuou em melodramas, o que o deixou insatisfeito. Em 1957, uma cirurgia de aumento de bochechas o levou a papéis maiores em filmes de ação.

Conhecido como Joe the Ace, tornou-se uma estrela popular, especialmente pelas colaborações com Seijun Suzuki em filmes de yakuza como Departamento de Detetives 2-3: Vá para o Inferno, Bastardos!, Juventude da Besta e Marcado para Matar, o que o consagrou no cinema policial internacional. Com mais de 300 créditos, trabalhou até seus 70 anos.

Setsuko Hara: Estrela que Brilhou na Segunda Guerra e Além

Nascida em 1920, Setsuko começou cedo na indústria cinematográfica, convencida pelo diretor Hisatora Kumagai (casado com sua irmã mais velha) a abandonar os estudos. Tornou-se proeminente no final da década de 1930, após estrelar Filha do Samurai (1937), uma coprodução germano-japonesa. Durante a Segunda Guerra, foi escalada para papéis de heroína trágica, mas após o conflito, representou a nova face da mulher japonesa esperançosa pelo futuro.

Sua carreira realmente decolou com Yasuhiro Ozu, estrelando seu filme mais famoso, Contos de Tóquio. Apesar do sucesso, aposentou-se em 1962 e viveu uma vida reclusa em Kamakura até sua morte em 2015. O anime Millennium Actress (2001), de Satoshi Kon, é uma homenagem à atriz, baseada livremente em sua vida e carreira.

Ken Watanabe: Sucesso no Japão e Internacionalmente

Ken Watanabe nasceu em Koide, na província de Niigata, e mudou-se para Tóquio para seguir a carreira de ator após o colegial. Após papéis na TV, estreou no cinema em Os Filhos de MacArthur. Nos anos 1990, após lidar com leucemia, teve atuações destacadas, recebendo indicação ao prêmio da Academia Japonesa de Melhor Ator Coadjuvante por Kizuna (1998) e ganhando o prêmio de Melhor Ator por Memórias de Amanhã (2006).

Alcançou reconhecimento internacional com O Último Samurai e Cartas de Iwo Jima.

Takeshi Kitano: A Excelência como Ator e Diretor

Como Beat Takeshi, foi um comediante popular na década de 1970, formando a dupla “The Two Beats” com Kiyoshi Kaneko. Iniciou sua trajetória no drama, recebendo indicações ao Prêmio da Academia Japonesa de Cinema por Feliz Natal, Sr. Lawrence e Yasha. Em 1989, estreou na direção com o filme de yakuza Policial Violento.

Na década de 1990, continuou dirigindo e atuando em aclamadas obras de yakuza como Ponto de Ebulição, Sonatine e Fogos de Artifício, por este último, recebeu o prêmio de Melhor Ator nos Blue Ribbon Awards. Uma atuação inesquecível foi em Battle Royale, de Kinji Fukasaku, onde interpretou o professor sádico.

Sonny Chiba: Versatilidade em Seis Décadas

Sonny Chiba (nascido Sadaho Maeda) teve uma carreira de mais de seis décadas no cinema e na TV japonesa. Começou na TV em séries de super-heróis e estreou nos filmes de artes marciais em 1973, com destaque em O Caçador de Rua (1974), que o consagrou internacionalmente, adotando o nome artístico Sonny Chiba.

Atuou em dezenas de filmes por década, mantendo-se ativo até sua morte em 2021.

Rinko Kikuchi: Performances Memoráveis em Nível Mundial

Desde sua estreia em 1999, Rinko Kikuchi cativa plateias com atuações excepcionais. Em 2006, foi a primeira atriz japonesa em 50 anos indicada ao Oscar por seu papel em Babel, de Alejandro González Iñárritu, como a adolescente surda Chieko Wataya, sendo a quarta pessoa na história do Oscar a ser indicada por um papel sem falas.

Com mais de 60 créditos, atuou em filmes como O Sabor do Chá, na franquia Círculo de Fogo, Westworld e Tokyo Vice.

Ken Ogata: Os Personagens Mais Sombrios do Cinema Japonês

Ken Ogata começou sua carreira na trupe de teatro Shinkokugeki, tornando-se popular em 1965 com a série Taikōki. Entre 1978 e 1992, recebeu 12 indicações ao Prêmio da Academia Japonesa de Cinema, vencendo por O Demônio e Casa em Chamas. Interpretou personagens sombrios memoráveis, como Iwao Enokizu (A Vingança é Minha, de Shōhei Imamura) e Yukio Mishima (Mishima: Uma Vida em Quatro Capítulos, de Paul Schrader).

Minoru Chiaki: Onze Filmes com Akira Kurosawa

Minoru Chiaki, diretor da companhia teatral Bara-Za, foi descoberto por Akira Kurosawa e atuou em 11 de seus filmes, incluindo Sete Samurais. Sua atuação como um ex-professor com Alzheimer lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator da Academia Japonesa de Cinema.

Hiroyuki Sanada: Um Ator Multifacetado

Hiroyuki Sanada, que começou como ator mirim, estreou no cinema em 1966 com Sonny Chiba em Jogo de Azar. Após atuar em filmes de ação no Japão e Hong Kong, dedicou-se à atuação de personagens, ingressando na Royal Shakespeare Company. Alcançou sucesso internacional com O Último Samurai e participou de séries como Lost e Shogun.

Ken Takakura: A Última Grande Estrela do Japão

Ken Takakura, comparado a Clint Eastwood, alcançou fama internacional em filmes de yakuza, interpretando fora-da-lei e heróis estoicos. Ganhou quatro vezes o Prêmio da Academia Japonesa de Cinema de Melhor Ator (recorde até 2024). Teve sucesso em Hollywood (O Yakuza, Chuva Negra, Sr. Beisebol) e na China (Manhunt).

Recebeu a Ordem da Cultura, a maior honraria cultural do Japão.

Bunta Sugawara: Sucesso Tardia no Cinema

Bunta Sugawara, após atuar como modelo, estreou no cinema em 1956. Aos 40 anos, estrelou a primeira parte da épica série de cinco filmes de yakuza Batalhas Sem Honra e Humanidade, dirigida por Kinji Fukasaku, que o consagrou. Ganhou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por O Homem que Roubou o Sol.

Kōji Yakusho: Um dos Atores Mais Premiados do Japão

Kōji Yakusho, após entrar para a escola de atuação de Tatsuya Nakadai, teve seu papel de destaque em Tampopo, de Jūzō Itami. Recebeu 23 indicações ao Prêmio da Academia Japonesa de Cinema, com quatro vitórias como Melhor Ator, e atuou em produções de Hollywood como Memórias de uma Gueixa e Babel. Ganhou o prêmio de Melhor Ator em Cannes por Dias Perfeitos, de Wim Wenders.

Chishū Ryū: A Imagem da Paternidade Japonesa

Chishū Ryū atuou em mais de 200 filmes e programas de televisão, colaborando com Ozu em 52 de seus 54 filmes, geralmente como figuras paternas em uma sociedade japonesa em transformação. Trabalhou com renomados diretores como Kurosawa, Kinoshita e Inagaki, ganhando prêmios como o Blue Ribbon Award e o Mainichi Film Concours Award.

Takashi Shimura: O Colaborador Mais Frequente de Kurosawa

Takashi Shimura atuou em 21 filmes de Akira Kurosawa, mais do que qualquer outro ator, incluindo Rashomon, Sete Samurais e Trono de Sangue. Sua atuação em Ikiru foi aclamada pela crítica. Também é lembrado por seus papéis como o Dr. Kyohei Yamane em Godzilla e Godzilla Raids Again.

Tatsuya Nakadai: Uma Figura Seminal na História do Cinema Japonês

Tatsuya Nakadai, após papéis menores em A Sala de Paredes Grossas e Sete Samurais, colaborou 11 vezes com Masaki Kobayashi e 6 com Akira Kurosawa, dando atuações premiadas em filmes como Harakiri e Kagemusha. Teve também atuações memoráveis em O Rosto de Outro, Mate!, A Espada da Perdição e Goyokin.

Machiko Kyō: Sete Décadas de Sucesso

Machiko Kyō, começou a atuar aos 12 anos e alcançou fama em 1950 com Rashomon. Tornou-se um símbolo sexual no Japão, atuando em quase 100 filmes e programas de televisão. Atuou com Marlon Brando em A Casa de Chá da Lua de Agosto (1956), recebendo indicação ao Globo de Ouro. Aposentou-se em 2006.

Toshirō Mifune: O Maior Ator Japonês de Todos os Tempos

Toshirō Mifune é considerado um dos maiores atores do cinema mundial. Descoberto em um teste da Toho, colaborou 16 vezes com Akira Kurosawa (Anjo Bêbado, Yojimbo e A Barba Vermelha), ganhando dois Leões de Prata no Festival de Veneza. Também trabalhou com Hiroshi Inagaki e Kihachi Okamoto. Atuou na minissérie Shogun (NBC), sendo indicado ao Emmy.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: [email protected]

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