Jornada nas Estrelas: Episódios da Série Clássica que Envelheceram Mal e Causaram Polêmica
Jornada nas Estrelas: A Série Original, um marco na ficção científica, estabeleceu padrões para todas as produções que se seguiram na franquia. Conhecida por sua diversidade e por abordar questões morais complexas, a série original expandiu os limites do que a televisão podia fazer. No entanto, como qualquer obra, ela também reflete o contexto de sua época.
Alguns episódios de Jornada nas Estrelas se destacam por apresentar elementos de misoginia e racismo, além de decisões de roteiro questionáveis, especialmente na terceira temporada. Essas controvérsias não impediram que a série fosse apreciada, mas certos episódios são vistos de forma diferente pelo público contemporâneo.
Episódios Polêmicos e Seus Problemas:
1. “Quem Chora por Adonais?”: Neste episódio, a tripulação da Enterprise encontra Apolo, um ser que se diz um deus grego. Ele busca transformar a tenente Palamas em sua rainha. A trama gerou controvérsia por reduzir Palamas a um objeto, chegando até a ter uma cena, posteriormente cortada, onde ela ficaria grávida de Apolo. Uma referência a essa polêmica foi feita na série Star Trek: Lower Decks com a personagem Olly.
2. “Aos Deuses Destruídos”: Ambientado em um hospital psiquiátrico para criminosos, o episódio apresenta uma visão ultrapassada sobre saúde mental. A ideia de que a doença mental deve ser erradicada não se sustenta no século XXI, o que torna o episódio desconfortável para o público atual. Séries posteriores de Jornada nas Estrelas abordaram o tema de forma mais sensível.
3. “A Conquista da Inocência”: Um vírus faz com que os tripulantes da Enterprise percam suas inibições, resultando em cenas bizarras, como a de George Takei sem camisa. Apesar de seu tom cômico, o episódio se inicia com uma situação absurda e um desenvolvimento sem sentido que não funcionariam para o público atual. Star Trek: The Next Generation chegou a criar um episódio semelhante, "A Conquista da Inocência", porém, com uma abordagem mais consciente.
4. “As Luzes de Zetar”: A história mostra uma oficial sendo controlada por entidades, uma trama que parece repetitiva e superficial. A roteirista Shari Lewis, famosa pela personagem Lamb Chop, pretendia usar a história para refletir suas experiências no show business e atuar na personagem principal, porém, a personagem foi reformulada e a participação dela também não aconteceu. O que descaracterizou a mensagem que a autora tentava passar.
5. “A Empática”: Este episódio retrata cenas de tortura que foram banidas em alguns países. Kirk, Spock e McCoy encontram uma mulher muda com a habilidade de curar, mas são capturados por alienígenas que desejam testar seus poderes. A premissa, embora com final feliz, é incômoda e seria tratada com maior sensibilidade nos dias atuais. A série Star Trek: Discovery explorou temas similares de forma mais cuidadosa.
6. “Os Filhos de Platão”: Este episódio foi controverso por apresentar um beijo interracial forçado entre o Capitão Kirk e a oficial de comunicações Uhura. O beijo, fruto de uma imposição por seres telepáticos, não representa um avanço na representatividade. Pelo contrário, gera desconforto por forçar uma intimidade entre pessoas que se respeitam.
7. “A Intrusa”: Uma ex-namorada de Kirk troca de corpo com ele para assumir o comando da Enterprise, revelando um sexismo da época, pois a personagem é impedida de ser capitã por ser mulher. A série já corrigiu esse equívoco em outras produções, mostrando mulheres em posições de liderança. O episódio é um exemplo de como o machismo impregnava a sociedade americana e Hollywood na época.
8. “As Mulheres de Mudd”: Este episódio aborda o tráfico de mulheres de forma problemática. Mudd é apresentado como um homem que transporta mulheres, mas logo se descobre que ele está vendendo-as em busca de lucro. A equipe da Enterprise também tem um comportamento inapropriado com elas, considerando apenas sua beleza física, o que não combina com o tom progressista da série.
9. “A Glória de Ômega”: Com uma trama que remete à Guerra Fria, o episódio usa metáforas problemáticas para representar conflitos ideológicos. Kirk, muitas vezes visto como um representante do “ponto de vista americano”, assume um papel questionável nesse episódio, que acaba reforçando estereótipos raciais em vez de desafiá-los.
10. “Elaan de Troyius”: Inspirado em Helena de Troia, o episódio apresenta uma princesa mimada e estereotipada. O tratamento condescendente dispensado a ela, incluindo cenas em que Kirk a ameaça e a agride, reflete a falta de sensibilidade da época. A ausência da editora de roteiros Dorothy Fontana é notória neste episódio.
11. “O Lobo no Rebanho”: Uma releitura da história de Jack, o Estripador, o episódio apresenta uma visão misógina ao concluir que as mulheres são mais medrosas que os homens, tornando-as alvos fáceis. As personagens femininas são superficiais, em contraste com a personagem Uhura, que é mostrada como capaz e autoritária. A trama não se encaixa no universo de Jornada nas Estrelas.
12. “O Inimigo Interior”: Apesar de ser um episódio aclamado, o final apresenta uma cena em que uma assistente de bordo é agredida por um Kirk maligno. Um comentário de Spock sugere que ela teria gostado da agressão, o que é problemático, visto que a atriz Grace Lee Whitney, que interpretava a assistente, sofreu abuso sexual nos bastidores. O comentário e a situação banalizam a violência sexual.
13. “A Síndrome do Paraíso”: Um episódio com potencial dramático que retrata Kirk com amnésia e casado com uma mulher nativa, mas que se perde em estereótipos raciais, utilizando o conceito de “selvagem nobre” e não contando com a participação de atores nativos americanos. Um episódio de Jornada nas Estrelas: A Série Animada foi premiado com um Emmy por apresentar um personagem nativo americano e ter sido escrito por um membro da nação Kiowa.
14. “O Demônio na Escuridão”: Este episódio se destaca por ser o único em que nenhuma personagem feminina tem falas. O fato de o monstro ser uma mãe protegendo seus filhos torna a ausência de vozes femininas ainda mais estranha.
15. “Operação Aniquilar!”: Neste episódio, a solução para um problema é o genocídio de uma espécie de parasitas. Essa atitude não condiz com os valores da Frota Estelar. Séries mais recentes da franquia demonstram preocupação em evitar soluções que levem a massacres.
Apesar de suas falhas, Jornada nas Estrelas: A Série Original continua sendo um marco da televisão, disponível no catálogo da Paramount+ e Pluto TV.