Melvin e Howard: A comédia peculiar de Jonathan Demme que divide opiniões
Jonathan Demme, aclamado diretor de O Silêncio dos Inocentes e Filadélfia, é conhecido por sua versatilidade. No entanto, em 1980, ele surpreendeu com uma comédia peculiar, Melvin e Howard. O filme, escrito por Bo Goldman, o mesmo de Um Estranho no Ninho, merece ser redescoberto.
A trama segue Melvin Dummar (Paul Le Mat), um trabalhador que luta para sustentar sua família. Um dia, ele encontra Howard (Jason Robards), um idoso ferido no deserto. Após uma conversa estranha, Melvin o deixa em Las Vegas. A história muda o foco para a vida de Melvin, suas dificuldades financeiras e problemas no casamento com Lynda (Mary Steenburgen). Após ganhar um prêmio em um programa de TV, o casal se separa e Melvin se muda para Utah, onde trabalha em um posto de gasolina. Quase 70 minutos depois, Howard ressurge na trama.
A história é inspirada na vida de Melvin Dummar e um testamento controverso de Howard Hughes. O magnata, conhecido por sua excentricidade e por ser tema do filme O Aviador, teria deixado um pedaço de sua fortuna para Melvin, que o teria ajudado anos antes. Segundo Dummar, ele e Hughes se encontraram em 1967. Melvin teria oferecido ajuda a um homem ferido, sem saber que era Hughes. Em 1976, um testamento deixava 1/16 da fortuna de Hughes para um tal de “Melvin DuMar” (com um erro de grafia), além de outros beneficiários, como a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons). A autenticidade do testamento foi questionada, e após diversas disputas judiciais, foi considerado uma falsificação. Melvin nunca recebeu sua parte da herança, embora muitos acreditem em sua história.
A produção de Melvin e Howard começou antes da decisão judicial sobre o testamento. Bo Goldman conheceu Melvin em 1976 e decidiu escrever uma história simpática e precisa sobre sua vida. O roteiro, combinado com a direção humanista de Demme, resultou em uma experiência inusitada e comovente.
A recepção de Melvin e Howard foi mista na época. Críticos elogiaram o roteiro, a comédia, as atuações e o humanismo da produção. No entanto, alguns espectadores não entenderam a falta de direção aparente do filme, principalmente após a primeira cena com os dois personagens principais. Essa escolha dos cineastas foi proposital. Assim como Melvin, que não pensava em Howard há anos, o público também se esquece do personagem. O reaparecimento dele gera surpresa, assim como aconteceu com o protagonista ao receber o testamento.
Apesar das críticas mistas, Melvin e Howard foi um sucesso em premiações. O filme ganhou dois Oscars: Melhor Atriz Coadjuvante para Mary Steenburgen e Melhor Roteiro Original para Bo Goldman. Jason Robards foi indicado a Melhor Ator Coadjuvante, mas não levou o prêmio.
Melvin e Howard é uma prova da versatilidade de Jonathan Demme. O filme mistura comédia peculiar, momentos dramáticos e emoção. Demme transformou momentos cotidianos em uma obra cinematográfica extraordinária. É um filme que merece ser lembrado por sua singularidade.