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Nosferatu: a busca por amor e morte no novo filme de Robert Eggers

O aguardado filme Nosferatu, de Robert Eggers, mergulha em uma relação complexa e sombria entre Ellen e o Conde Orlok. Ellen, a responsável por trazer o Conde Orlok de volta, esconde um segredo obscuro, e seus desejos desencadeiam consequências terríveis. Ao longo da trama, ela é atormentada por pesadelos, possessões e o medo pela segurança de todos ao seu redor. O filme explora o terror causado pela aproximação do Conde Orlok, que traz consigo ratos, pragas e mortes.

A narrativa do filme levanta questões intrigantes. Nosferatu, como um vilão aterrador, é capaz de atos horríveis, mas sua motivação é uma das mais puras da história. Ellen, que tenta alertar todos sobre o mal, não é quem parece ser. Suas verdadeiras intenções são reveladas no final. Por trás do horror, Nosferatu anseia por algo mais do que sangue e está disposto a morrer por isso, ou talvez, morrer seja seu verdadeiro desejo. Ellen, por sua vez, parece ter um motivo ainda mais profundo para se unir a Nosferatu, preferindo-o ao seu marido, Thomas.

A verdadeira intenção do vampiro permanece um mistério até o desfecho. Embora Bill Skarsgard, como Nosferatu, cause doenças e mortes, esse não é seu objetivo final. Ele se destaca como um antagonista diferente, sem planos de destruição mundial ou dominação. Seu único desejo é estar com Ellen. Ele traz Thomas até seu castelo, não para matá-lo, mas para que ele assine um documento que desfaça seu casamento com Ellen, permitindo que ela fique com o vampiro por toda a eternidade. Surpreendentemente, Nosferatu não mata Thomas, demonstrando que não tem nada contra o marido de Ellen. Ele, inclusive, consegue retornar para casa e planeja proteger sua esposa.

Inicialmente, Ellen parece tocada pela atitude de Thomas, mas logo percebemos que isso pode não ser o que ela realmente deseja. Ela teme Nosferatu, que a possui e causa pesadelos, mas ao se encontrarem pela primeira vez, não demonstra medo. Parece que Nosferatu quer apenas sua alma. Em um encontro posterior, o vampiro se mostra distante, enquanto Ellen está enfeitiçada, buscando um beijo que parece a própria morte. Não há erotismo na cena, mas Nosferatu promete retornar na terceira noite para levá-la. Nesse momento, Ellen parece uma mariposa atraída pela chama de Nosferatu. Ellen chega a perguntar se o vampiro é capaz de amar, mas a resposta é sombria e de certa forma, uma rejeição.

Na terceira noite, Ellen aparece vestida de noiva, faz um juramento sagrado e se entrega a Nosferatu por toda a eternidade. Ambos se desnudam para consumar o casamento e, então, o vampiro se alimenta de seu sangue. Ele passa a noite inteira saboreando cada gota, mas Ellen deseja que ele termine o ritual, mesmo que isso signifique sua morte. Ao ver a luz do sol pela primeira vez em séculos, Nosferatu permanece nos braços de Ellen, demonstrando que estava disposto a morrer para ficar com ela. Sua jornada até Ellen parece ter o único propósito de morrer ao lado dela e descansar para sempre.

A abordagem de Robert Eggers sobre o vampiro como um “cadáver ambulante” é notável. Nosferatu está apodrecendo em seu castelo, e seu corpo físico está cheio de buracos. Ele está sendo consumido por vermes, como se a morte fosse iminente. A razão para viajar até Ellen não era possuí-la ou drenar seu sangue, mas sim amá-la e morrer em seus braços. Ellen, por sua vez, desperta Nosferatu no início da trama, mas passa boa parte do tempo tentando impedir o mal que ele espalha. Sua relação com o vampiro é intensa e cheia de contradições.

Ela tenta convencer Thomas de que foi ingênua e solitária ao evocar Nosferatu. Mas, em um determinado momento, Ellen revela a Thomas que ele nunca a satisfaria como o vampiro, sugerindo que sua conexão com o Conde Orlok é muito mais profunda do que se imagina. Ellen se sente incompreendida por todos, incluindo seu marido, que ignora seus alertas e pesadelos, e sua amiga, que a culpa por sua melancolia. O único que realmente a entende é Nosferatu, que causa seus pesadelos e parece ter uma ligação com ela há muito tempo.

Os desejos de Ellen são reprimidos, e Nosferatu é o único que os compreende. Mesmo aterrorizada, ela se sente atraída por ele, pois ele aceita o lado dela que os outros rejeitam. Parece estranho que ela escolha um cadáver em vez de seu marido, mas a cena final, com ambos nus e morrendo, parece uma afronta de Ellen a Thomas. Ela prefere morrer com Nosferatu a viver uma vida normal. A narrativa sugere que, talvez, Thomas sempre se lembrará de Ellen como a mulher que se sacrificou para matar o monstro, mas a verdade é que o desejo de Ellen sempre foi morrer nos braços de Nosferatu e ficar com ele por toda a eternidade, independente de ter matado ou não o monstro.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: [email protected]

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