Nosferatu: O filme que mudou para sempre a fraqueza dos vampiros ao sol
Quando pensamos em vampiros, diversas características vêm à mente: eles bebem sangue, são mortos-vivos, possuem habilidades sobre-humanas e podem ser destruídos pela luz do sol. Essa última característica, a vulnerabilidade à luz solar, é um padrão nos contos de vampiros, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a luz do sol era apenas um incômodo para vampiros, enfraquecendo seus poderes, mas sem causar danos reais. A ideia de que a luz solar é fatal para vampiros tem pouco mais de um século, e devemos isso ao filme Nosferatu.
Lançado originalmente em 1922, o filme mudo alemão Nosferatu: Uma Sinfonia de Horror foi uma adaptação não autorizada do livro Drácula, de Bram Stoker, publicado em 1897. Segundo o historiador de cinema Rolf Giesen, o diretor de Nosferatu, F.W. Murnau, e o produtor Albin Grau, entraram em contato com a editora da tradução alemã de Drácula, mas não obtiveram os direitos de Florence Stoker, viúva de Bram. Assim, em vez de adaptar diretamente Drácula, Murnau e Grau fizeram mudanças. A maioria dessas mudanças foi cosmética: o Conde Drácula se tornou o Conde Orlok, Mina virou Ellen e Van Helsing, um cético chamado Dr. Bulwer. Mas houve alterações significativas, incluindo a principal fraqueza do Conde Orlok. Enquanto Drácula podia se mover à luz do dia sem ser prejudicado – embora com seus poderes enfraquecidos – para o Conde Orlok, o contato com a luz solar seria fatal.
Essa mudança foi crucial para a mitologia dos vampiros. Antes de Nosferatu, a maioria das histórias de vampiros refletia o arquétipo de Stoker, com vampiros tendo vulnerabilidades, mas sendo mais difíceis de matar. Introduzir a ideia de que algo tão mundano como a luz do sol poderia ser fatal, não só adicionou uma nova restrição aos vampiros, confinando-os à noite, mas também deu à humanidade uma vantagem no combate a essas criaturas. Essa mudança (e as outras que Nosferatu fez) não foi suficiente para evitar problemas legais e quase fez o filme se perder na história, mas teve um impacto duradouro, tão significativo quanto o de Drácula. Afinal, a aversão à luz do dia é uma das principais características que associamos aos vampiros hoje.
A ideia de que a luz do dia prejudica os vampiros também fechou um ciclo, chegando a uma adaptação de Drácula. Em 2020, a BBC lançou uma minissérie em três partes escrita por Steven Moffat e Mark Gatiss, de Doctor Who, chamada Drácula. A série é uma adaptação bem livre do livro de Stoker, mas inclui o conceito de que a luz do dia é fatal para vampiros. No entanto, o último episódio volta à ideia de que a luz do dia é inofensiva, explicando que Drácula se convenceu de que as lendas sobre vampiros e a luz do dia eram verdadeiras para se esconder da sociedade. É uma maneira inteligente de honrar a história original de Drácula, mas também de se encaixar no novo padrão para vampiros criado por Nosferatu.
Nosferatu também teve grande influência nas histórias de vampiros além da questão da luz do dia. O Conde Orlok se tornou o modelo – principalmente em termos de aparência – para muitos outros vampiros na mídia. Alguns exemplos incluem Petyr e O Barão em What We Do in the Shadows (o primeiro no filme de 2019 e o último na série de televisão), O Mestre em Buffy, a Caça-Vampiros, Kurt Barlow em Salem’s Lot, de 1979, e talvez o mais diretamente, o clã Nosferatu no jogo Vampiro: A Máscara. É um legado enorme – e um que mudou para sempre a forma como vemos os vampiros.
O filme Nosferatu de Robert Eggers está programado para chegar aos cinemas em 25 de dezembro.