Nosferatu: sucesso de bilheteria e a influência em novas adaptações de contos de vampiros
Nosferatu levou quase uma década para ser realizado. Eggers queria que este novo filme superasse tudo o que ele havia feito antes.
Nosferatu, filme de terror de 2024 dirigido por Robert Eggers, estreou nos cinemas e se tornou um grande sucesso, recebendo elogios da crítica e do público. O longa, visceral e envolvente, lembra a estreia de Eggers, A Bruxa. A atenção aos detalhes da época e o elenco talentoso contribuem para a eficácia do filme.
Nosferatu traz uma nova perspectiva ao gênero de vampiros, fugindo da glamorização recente. A interpretação de Eggers do Conde Orlok pode revitalizar a imagem de sangue e caos associada originalmente a essas criaturas. A obra apresenta similaridades com Salem’s Lot, de Stephen King, que, apesar de já ter sido adaptado para outras mídias, ainda não alcançou seu potencial completo.
Em 1922, foi lançado Nosferatu: Uma Sinfonia do Horror, adaptação não autorizada do clássico Drácula, de Bram Stoker. Estrelado por Max Schreck como o vampiro titular (Conde Orlok), o filme alemão apresentava uma visão mais sombria do tema. Como a produção não possuía os direitos autorais da obra de Stoker, todas as cópias do filme deveriam ser destruídas, mas uma sobreviveu, entrando para a história.
Robert Eggers adapta o clássico Nosferatu, usando os personagens e a estrutura original, mas com uma nova roupagem para o público contemporâneo. Uma das maiores mudanças é a protagonista feminina, Ellen, interpretada por Lily-Rose Depp. Diferentemente da versão original, Ellen não é apenas uma vítima. Embora seja o objeto do desejo de Orlok e tenha um fim trágico, ela tem uma agência que faltava na personagem original. A sequência de abertura mostra que Ellen teve um relacionamento com Orlok. Considerada uma ‘outsider’ pela sociedade alemã do início do século XIX, ela só encontra conexão com o vampiro decadente. O encontro com o marido, Thomas, muda as coisas, mas ela fica desolada com a chegada de Orlok. Ellen é a única que pode deter o demônio, e o filme usa isso como uma história de redenção.
Eggers mantém uma fidelidade notável ao filme de Murnau, mesmo com essas diferenças sutis. Sua dedicação ao material e talento para atualizá-lo provam que coisas antigas podem ser refeitas. Assim como um vampiro, essas histórias são imortais.
Salem’s Lot, publicado em 1975, foi o segundo livro de Stephen King. King afirmou que sua inspiração veio da ideia do que aconteceria se Drácula viesse para a América. O resultado foi Salem’s Lot, ambientado em uma pequena cidade no Maine. O livro introduziu muitas das características que se tornaram familiares aos fãs de King. King não esconde sua inspiração, mas também se diferencia do material original. Ambientado em um mundo mais moderno, os moradores de Salem’s Lot lidam com preocupações cotidianas, como namoro, carreira e os horrores da vida suburbana. Além disso, seu protagonista, Ben Mears, não é um herói típico.
Assim como Drácula e Nosferatu, Salem’s Lot apresenta um vampiro que se muda para uma cidade. Ajudado por seu cúmplice humano, Barlow pretende consumir toda a cidade. Drácula tem um final mais otimista em comparação com os demais contemporâneos. Mina Harker sobrevive e Drácula é destruído. Em Nosferatu, Orlok é destruído, mas com um custo. Na visão de King, o final é o mais sombrio. Os vampiros dominam a cidade, deixando poucos sobreviventes, que continuam sendo caçados pelas criaturas.
Já houve três adaptações de Salem’s Lot. Apenas uma foi um longa-metragem. A minissérie de Tobe Hooper, lançada em 1979, é considerada a adaptação mais respeitada, sendo fiel ao romance de King. A minissérie da TNT de 2004, apesar de seus méritos, também teve suas falhas. A versão de 2024 teve muitos problemas, sendo prejudicada por atrasos e lançada diretamente em streaming. A principal questão foi a duração: um filme com menos de duas horas não consegue contar a história de King fielmente.
Adaptar material original é uma faca de dois gumes. Há um motivo para os remakes. No caso de Nosferatu, é uma história que se beneficia de ser recontada sob uma nova ótica. A personagem de Ellen merece ser atualizada, já que ela é a heroína da história. Robert Eggers conseguiu equilibrar a fidelidade à história original com sua própria visão. O mesmo deveria ser aplicado a uma adaptação de Salem’s Lot.
O lançamento de Salem’s Lot de 2024 foi decepcionante, considerando seu potencial. A cinematografia era excelente, e a ambientação na década de 1970 deu um toque especial. Se o filme for adaptado novamente, deve-se manter os elementos positivos e a intenção original de King. Não há nada mais aterrorizante do que os segredos de uma pequena cidade.
Robert Eggers, em entrevista ao Conversations at Curzon,
Ele está animado com a adaptação de Guillermo del Toro, que deve ser lançada em breve. Eggers também comentou sobre projetos passados, incluindo “The Knight”, cujo roteiro está concluído, mas sem atualizações recentes.
Nosferatu levou quase uma década para ser realizado. Eggers queria que este novo filme superasse tudo o que ele havia feito antes.