Séries

O fracasso da minissérie de Wicked da ABC e o caminho tortuoso para a adaptação cinematográfica

Mesmo com o grande sucesso de Wicked nos cinemas, sua jornada até chegar às telas foi bastante árdua. A adaptação da história, originalmente um livro de Gregory Maguire, Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West, para a tela se mostrou um desafio. Em 2011, a ABC Studios investiu em uma série de TV baseada no livro, descartando a inspiração do musical da Broadway e optando por uma atmosfera mais sombria, porém o projeto nunca saiu do papel.

É comum que produções, especialmente séries de TV que exigem mais trabalho que um filme, sejam adiadas e depois retomadas em um momento mais oportuno. Mas com Wicked, parece que a adaptação para a TV nunca foi realmente viável. Se esperavam por uma adaptação cinematográfica desde o início, ou se o desafio de desenvolver Elphaba e Glinda de forma convincente ao longo de vários episódios foi o fator decisivo, a razão verdadeira permanece incerta, embora seja possível especular.

Wicked é um fenômeno global, mas antes de chegar às telonas, fez sucesso na Broadway, quebrando recordes com US$ 2.228.235 em bilheteria em 2011. Esse sucesso chamou a atenção da ABC Studios, que se interessou em adaptar a história para a TV. O que é particularmente interessante é que Salma Hayek liderava o projeto, junto com José Tamez, por meio de sua empresa Ventanarosa Productions. A dupla imaginou uma minissérie de 8 horas, com Hayek também assumindo um papel secundário. Na época, o TV Line noticiou a adaptação, adicionando que o roteiro seria escrito por Erik Jendresen, conhecido por seu trabalho em Band of Brothers e na franquia Missão Impossível.

Antes mesmo dessa nova ideia, uma adaptação de Wicked já estava em pauta, mas foi rejeitada por Steve McPherson, o então presidente da ABC. Somente quando Paul Lee assumiu o cargo a série teve chance de acontecer. Mas por que ela nunca se concretizou? O TV Line até mesmo contatou Gregory Maguire, que insinuou não ter certeza dos motivos; por meio de um porta-voz, ele disse: “enquanto os direitos de uma apresentação filmada não musical ainda são de propriedade de uma entidade separada, não houve nenhum movimento aparente para usar esses direitos por essa entidade.”

A história original não tem a mesma magia do musical conhecido pelos fãs: é mais sombria, voltada para um público adulto e aborda política, terrorismo e até assassinato. Adaptá-la para a tela é uma ideia intrigante, mas as razões pelas quais ela não se materializou permanecem obscuras, principalmente porque os representantes de Hayek e Jendresen não comentaram sobre o assunto. Considerando a complexidade da trama e o longo processo envolvido na adaptação para o filme de 2024, é possível que restrições orçamentárias e o desafio de traduzir a história para um formato de TV tenham sido fatores contribuintes – mas estas são apenas especulações.

Antes mesmo de Jon M. Chu assumir o projeto, outro diretor também foi encarregado de levar Wicked para a tela grande. No entanto, uma coisa é clara – todos os envolvidos pareciam ver a trama como inerentemente ligada à sua natureza musical. Um longa-metragem parecia ser a escolha lógica, em parte porque a ideia era se inspirar no formato que já havia obtido imenso sucesso. O que é intrigante, porém, é que uma peça teatral de Wicked nunca foi o plano original – sempre foi planejado como um filme.

Em uma entrevista à Variety, o produtor Marc Platt, que inicialmente adquiriu os direitos, explicou por que isso mudou. “O roteiro nunca encontrou seu caminho”, disse ele. “Nunca quebramos o terceiro ato, e eu me perguntei se funcionaria melhor como dois atos, como uma peça.” Ele também aproveitou a oportunidade para falar sobre o aspecto musical. “Eu tinha a sensação de que adicionar música a ele acrescentaria um pouco daquela magia que estava faltando nos roteiros. E ao contar a história das jornadas de duas personagens separadas, a música permite o tipo de monólogo interior que é difícil de conseguir cinematograficamente.”

Isso também ajuda a explicar por que Chu decidiu lançar a versão cinematográfica em duas partes. Quando Wicked finalmente se tornou um musical, solidificou sua identidade neste formato, tornando difícil reimaginá-lo como algo diferente – especialmente porque muitos argumentariam que sua essência reside nas canções. Um problema semelhante surgiu com o live-action de Mulan, que não conseguiu cativar muitos fãs, em grande parte devido à ausência de suas músicas.

Uma das principais razões – senão a principal razão – pela qual grandes públicos estão lotando os cinemas para ver o filme é, sem dúvida, a música, e a recente polêmica sobre se cantar ou não durante as sessões de Wicked serve como prova disso. Mesmo que a minissérie de TV tivesse sido lançada pela ABC, sem música, Wicked poderia ter tido dificuldades para se manter popular ou realmente desafiar a gravidade em todo o seu potencial.

Wicked está agora nos cinemas.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: [email protected]

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