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O Que Faz ‘Um Herói de Brinquedo’ Ser um Clássico Natalino?

Quando se fala em filmes de Natal, ‘Um Herói de Brinquedo’ sempre surge na conversa, seja de forma sincera ou irônica. A comédia natalina com Arnold Schwarzenegger divide opiniões: alguns a consideram uma obra subestimada, enquanto outros a veem como um erro hilário. Apesar de sua reputação controversa, o filme continua sendo um clássico natalino para muitos, 28 anos após sua estreia.

À primeira vista, 'Um Herói de Brinquedo' parece mais uma comédia familiar açucarada sobre um pai workaholic que embarca em uma jornada para reconquistar o amor e o respeito de sua família. A trama se passa no período natalino, o que a torna ainda mais genérica. No entanto, o filme se destaca por sua ousadia e caos cômico.

Apesar de ser uma história familiar comovente, as incursões de ‘Um Herói de Brinquedo’ no caos caricatural o diferenciam de seus contemporâneos. Em um momento, Howard Langston (Schwarzenegger) está com sua esposa Liz e seu filho Jamie, e no seguinte, ele está lutando com uma multidão de pais furiosos por uma bolinha de sorteio. Schwarzenegger merece elogios por sua dedicação em ser o centro das piadas, assim como Sinbad, que interpreta Myron Larabee, rival de Howard. Sem Myron como um contraponto descontrolado, Howard não seria tão engraçado.

Os outros personagens principais, como Liz e Jamie, são arquétipos comuns em comédias similares, existindo apenas para motivar Howard. Eles são dispositivos de enredo que apelam aos sentimentos do público, mostrando sua tristeza e frustração com as falhas de Howard. Ted Maltin, o vizinho perfeito e irritantemente falso, é um personagem mais interessante. Em um mundo onde tudo é exagerado, Liz e Jamie parecem deslocados.

A família de Howard ser tão esquecível expõe a maior falácia sobre ‘Um Herói de Brinquedo’: ele não é tão consistentemente caótico ou engraçado quanto muitos pensam. Há cenas de caos com um mercado negro de brinquedos comandado por Papais Noéis falsos, mas também há cenas com Jamie demonstrando tristeza. O filme alterna entre pastelão e melodrama, mas seria mais forte se fosse uma escalada de erros desde o início, em vez de desvios para dramas familiares. O maior erro foi seguir convenções desnecessárias, especialmente na luta final, que quase arruinou o filme.

Nos dois primeiros terços, 'Um Herói de Brinquedo' era uma paródia de comédias familiares genéricas e filmes natalinos da época. Os atores exageravam os traços de seus personagens para efeito cômico, mas ainda mantinham um senso de humanidade. Howard e Myron, por exemplo, conversavam como pais cansados em um restaurante. Esses momentos de paz e equilíbrio tonal davam ao filme o pathos necessário para evitar que ele se tornasse uma farsa total. No final, porém, o filme se transformou em um desenho animado e uma cópia de Power Rangers, tendência que ele havia satirizado.

Howard salvando o Natal com uma roupa de Turbo Man que funciona era demais, até para um filme como esse. O problema não era a luta irrealista ou o uso de armadura, mas sim que o final entrava em conflito com o humor e a escrita original de personagens. A luta traiu a amizade e rivalidade construída entre Howard e Myron. Em vez de pais em um impasse, eles eram um super-herói e um supervilão brigando por um boneco. Seria melhor se o terceiro ato fosse mais cômico e dramático do que repleto de ação, já que o charme paródico e a emoção de ‘Um Herói de Brinquedo’ desapareceram no final.

A resolução apressada dos problemas da família de Howard também não ajudou. Era óbvio que Howard e sua família teriam um final feliz, mas ignorar as consequências que ele poderia ter enfrentado com uma luta explosiva e um final abrupto deixou o filme incompleto. O filme resolveu todos os conflitos, mas de forma fácil e conveniente. Um epílogo breve e significativo teria sido melhor. ‘Um Herói de Brinquedo’ começou como uma paródia de filmes natalinos manipuladores, mas se tornou um no final.

Apesar de seus defeitos, ‘Um Herói de Brinquedo’ é um filme subestimado de Schwarzenegger. Ele aborda a superficialidade do Natal através da comédia, em vez de dar lições sobre valores familiares ou os males do materialismo. O filme foi inspirado nas brigas por bonecas Cabbage Patch Kids nos anos 80 e coincidiu com a febre do boneco Elmo em 1996, o que o torna estranhamente relevante. As críticas ao capitalismo e consumismo são feitas através de piadas, e os discursos de Myron são vistos como excêntricos. No final, é um filme sobre um pai que tenta se reconectar com o filho através do materialismo, para perceber que estava errado. Mas nenhum outro filme natalino chega tão longe em suas mensagens e subtextos.

Schwarzenegger também não recebe crédito suficiente por se humilhar em ‘Um Herói de Brinquedo’. Ele é lembrado por seus filmes de ação, como Conan, o Bárbaro, Predador e O Exterminador do Futuro, enquanto seus filmes cômicos são vistos como erros. Mas, com o tempo, fica fácil apreciar o quão corajoso ele foi. ‘Um Herói de Brinquedo’ foi lançado em 1996, no auge de sua fama. Ele alternava entre filmes de ação e comédias, em vez de se estagnar em fantasias de poder.

Schwarzenegger aceitou papéis que iam contra sua reputação como astro de ação, o que foi validado pelo tempo. ‘Um Herói de Brinquedo’ pode não ser a melhor de suas comédias, mas é memorável. As pessoas nunca esquecerão o Turbo Man e Howard ameaçando Ted, e isso é ótimo para a cultura pop.

‘Um Herói de Brinquedo’ está disponível para assistir e comprar fisicamente e digitalmente.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: [email protected]

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