Os 12 Macacos: filme distópico de 1995 antecipou o mundo atual?
Em 1995, o filme 12 Macacos, dirigido por Terry Gilliam, chegou aos cinemas com uma trama que parecia ficção científica distante. No entanto, em 2024, a história de uma praga viral, paisagens urbanas em ruínas, organizações terroristas subterrâneas e desinformação ressoa de forma surpreendente com os desafios do mundo contemporâneo. O filme, que mistura distopia e mistério com viagem no tempo, ganhou status cult e até uma série de televisão em 2015.
A narrativa de 12 Macacos inicia em um cenário pós-apocalíptico, em Pittsburgh, onde uma praga dizimou grande parte da humanidade, obrigando os sobreviventes a viverem no subsolo. James Cole, interpretado por Bruce Willis, é um detento encarregado de coletar amostras de animais na superfície para estudar a evolução do patógeno. Em uma reviravolta, ele é enviado para o ano de 1996, com o objetivo de obter uma amostra pura do vírus e auxiliar na criação de uma vacina.
Cole viaja para o passado, chegando em 1990, o que o deixa desorientado e o leva a ser internado em um hospital psiquiátrico sob os cuidados da Dra. Kathryn Railly, vivida por Madeleine Stowe. Lá, ele conhece Jeffrey Goines, interpretado por Brad Pitt, um ativista ambiental com ideias conspiratórias que se interessa pela missão de Cole, especialmente pela ideia de que uma praga viral poderia ajudar os animais a retomarem a Terra.
Após retornar ao futuro, Cole descobre uma gravação que associa a praga a Goines e a um grupo chamado “O Exército dos 12 Macacos”. Ao retornar a 1996, Cole encontra Railly, que se interessa cada vez mais pelas histórias do viajante do tempo. Juntos, eles descobrem que Goines estava envolvido em um laboratório que trabalhava com patógenos mortais. Eventualmente, eles descobrem que o plano do Exército dos 12 Macacos era apenas libertar os animais do zoológico.
A trama se complica quando Railly percebe que é um cientista do laboratório (David Morse), e não Goines, o responsável pela disseminação do vírus. Cole tenta impedir o cientista no aeroporto, mas é morto por agentes de segurança. Railly percebe que a cena faz parte de um ciclo temporal, já que o garoto que ela vê no aeroporto é o próprio Cole quando criança, que sempre testemunhou aquela cena em seus sonhos.
12 Macacos é um filme que deixa o público com mais perguntas do que respostas, um dos traços característicos de Terry Gilliam. Questões como: Por que os cientistas do futuro não compartilham todas as informações com Cole? Por que um detento foi escolhido para uma missão tão crucial? São levantadas para desequilibrar o espectador. A obra explora a maneira como a mente humana processa informações, retratando personagens como Goines, com sua loucura conspiratória, e Cole, que parece perdido tentando compreender o passado, o presente e o futuro. Até mesmo Railly, inicialmente racional, é levada à loucura ao mergulhar na missão de Cole.
O filme parece ter sido projetado para ter contradições e lacunas na lógica, explorando os paradoxos inerentes às histórias de viagem no tempo. Gilliam parece sugerir que ninguém pode compreender totalmente o universo, e ele parece ver a loucura como uma virtude, uma forma de libertação das estruturas de controle da sociedade.
Visualmente, 12 Macacos estabelece paralelos entre o passado e o futuro, usando configurações de câmera e visuais semelhantes que refletem a fragilidade da realidade dos personagens. As cenas de interrogatório, tanto no futuro quanto no asilo, são filmadas de forma similar, assim como as celas e paisagens urbanas que permanecem quase idênticas em diferentes períodos de tempo. Para Gilliam, a civilização pode sempre ter sido uma distopia.
O elenco de 12 Macacos entregou performances marcantes. Bruce Willis, em um papel incomum para sua carreira, interpreta um Cole confuso e hesitante, enquanto Madeleine Stowe encarna uma Railly que transita da razão para a excentricidade. Brad Pitt, por sua vez, entrega uma atuação excepcional como Jeffrey Goines, um personagem ameaçador e imprevisível, que mostra um lado de Pitt raramente visto no início de sua carreira.
O filme mantém um tom amargo, com personagens atormentados, refletindo uma época de niilismo que, diante de pandemias e crises globais, pode parecer ainda mais relevante em 2024. No entanto, 12 Macacos injeta uma complexidade que torna sua interpretação aberta a debates, com a possibilidade de um final feliz ou, talvez, a confirmação de uma grande ilusão. O filme, que explora ideias sobre loucura, sociedade e natureza do tempo, continua a ser um clássico atemporal que desafia o espectador a refletir sobre sua própria realidade.
12 Macacos está disponível para compra e aluguel em formatos físicos e digitais.