Parceria entre Gundam e Evangelion: fãs exaltam e relembram legado dos animes
A colaboração entre a Sunrise e o Studio Khara para a nova série de Gundam surpreendeu e empolgou os fãs de anime. A parceria reúne veteranos que trabalharam em Neon Genesis Evangelion, incluindo o criador da série, Hideaki Anno. A expectativa dos fãs é que Anno e sua equipe tragam a mesma abordagem de desconstrução que fez de Evangelion um sucesso, com uma visão sombria e introspectiva.
Entretanto, muitos fãs parecem esquecer que Gundam sempre abordou esses temas. Desde sua criação, a série explora o sofrimento psicológico dos pilotos de mechas e a questão ética de usar crianças em guerras. Antes de Shinji ser meme por 'entrar no robô' em Evangelion, Amuro precisava ser forçado a voltar para o Gundam na série original, Mobile Suit Gundam. Ambas as franquias desconstroem o gênero mecha, mostrando o lado sombrio da pilotagem de robôs gigantes e o fardo mental que isso acarreta. Evangelion é mais abstrato, enquanto Gundam foca na mensagem de que 'a guerra é ruim'. No entanto, as duas séries não são tão diferentes como os fãs imaginam, já que Gundam influenciou muito Evangelion.
Há quem diga que Evangelion não é um anime mecha por não ser totalmente mecânico, já que o foco está em como pilotar os Evas afeta os personagens. Mesmo assim, a série subverte os clichês do gênero. Gundam, por sua vez, é visto como um anime mecha tradicional, dada sua popularidade global. A franquia se tornou o arquétipo do gênero, enquanto Evangelion é vista como a subversão. No entanto, ambas as séries comentam o gênero, analisando a psicologia dos pilotos. Gundam sempre se manteve fiel a uma realidade mais concreta, com o criador Yoshiyuki Tomino afirmando que a série foi inspirada no uso de crianças como soldados pelo Japão nas Guerras do Pacífico.
Antes de Mobile Suit Gundam (1979), animes como Mazinger e Gigantor apresentavam a fantasia de pilotar um robô gigante. Gundam surgiu como o oposto, mostrando que pilotar uma arma gigante não era algo divertido. A série original inaugurou o subgênero Real Robot, com uma visão mais realista dos robôs gigantes.
Amuro Ray, o protagonista original de Gundam, era um adolescente de 16 anos que frequentemente se sentia sobrecarregado com a responsabilidade de pilotar o robô, desobedecendo ordens e reclamando constantemente. Essa abordagem é similar à de Evangelion, que mostra a deterioração mental de Shinji ao pilotar o Eva, explorando o uso e abuso de crianças na guerra. Enquanto Evangelion foca nas ramificações psicológicas, Gundam critica a guerra e a forma como os indivíduos são tratados dentro da estrutura militar.
Tomino retomou esses temas em outros animes de Gundam, como Zeta e Victory. Mobile Suit Zeta Gundam, em particular, é mais sombrio e aborda o crescente niilismo de Tomino em relação à guerra. O final de Zeta é notório no gênero mecha, com quase todo o elenco morrendo e o protagonista sofrendo um colapso mental. A influência desse final pode ser sentida em Evangelion, cujo filme The End of Evangelion mostra a humanidade se dissolvendo em um único ser. O final da série original também é sombrio, assim como o de Zeta.
Uma diferença entre Gundam e Evangelion é que a segunda série é mais abstrata. Evangelion intencionalmente confunde o público com diálogos estranhos e imagens surreais. Embora Gundam seja mais direto, Tomino explorou um tom surreal em Space Runaway Ideon, cujo final é ainda mais sombrio que o de Zeta Gundam. Fãs encontraram várias conexões entre Ideon e Evangelion, especialmente no final com alegorias bíblicas.
A diferença fundamental entre as séries vem das experiências de seus criadores. Tomino cresceu no Japão pós-Segunda Guerra e via a guerra como algo desnecessário. Já Anno cresceu na Guerra Fria, com a constante ameaça de um colapso da humanidade. Evangelion se passa em um mundo devastado, com foco em como a humanidade se recupera. Gundam também se passará em um mundo pós-guerra, mas o protagonista aparenta viver em tempos de paz.
Ambas as franquias buscam desconstruir o gênero de robôs gigantes, abordando temas mais profundos sobre a humanidade. A ideia de pilotar um robô gigante pode parecer legal, mas Tomino e Anno estavam mais interessados em mostrar o impacto disso nas pessoas. A parceria entre Anno e a equipe de Evangelion no novo Gundam é animadora, mas a franquia nunca precisou de uma reformulação ao estilo Evangelion. Afinal, a mensagem principal sempre foi que as pessoas, especialmente crianças, não deveriam entrar em robôs.