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Produções brasileiras ganham espaço no 81º Festival de Veneza

País terá participação em diversas seções da mostra de cinema.

O cinema brasileiro ocupa um lugar de destaque na 81ª edição do Festival de Veneza, que ocorre entre 28 de agosto e 7 de setembro. A participação nacional se estende desde a disputa pelo Leão de Ouro até a seção de realidade virtual, demonstrando um fortalecimento da produção cultural do país após um período de desafios políticos.

Um dos principais destaques é o novo filme de Walter Salles, intitulado “Ainda Estou Aqui”. O longa-metragem narra a história real de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, que foi perseguido, sequestrado e assassinado durante a ditadura militar no Brasil. O filme conta com um elenco de peso, incluindo Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello. Esta produção marca o retorno de Salles ao festival, onde já foi reconhecido anteriormente com “Abril Despedaçado” em 2001.

O Brasil também se faz presente em outras categorias importantes do festival. Na seção Horizontes Curtas, o curta-metragem “Minha Mãe é uma Vaca”, dirigido por Moara Passoni, ambientado no Pantanal, é um dos representantes do país. Já o documentário “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa, que aborda a relação entre o bolsonarismo e o fundamentalismo religioso, foi selecionado para a seção Fora de Concurso. A adaptação de Roberto Santos para a novela de Guimarães Rosa, “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, será exibida na mostra Veneza Clássicos. Por fim, a animação em realidade virtual “40 Dias Sem o Sol”, de João Carlos Furia, participa da seção Veneza Imersiva.

Além das produções, o cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho, conhecido por seus trabalhos em “Aquarius” e “Bacurau”, integra o júri que decidirá os vencedores dos prêmios principais, incluindo o cobiçado Leão de Ouro.

O professor de cinema e audiovisual da ESPM e sócio da produtora Latina Estudio, Cao Quintas, vê essa ampla participação como um reflexo da recuperação dos incentivos à cultura no Brasil, após um período de desmonte das políticas de fomento durante o governo de Jair Bolsonaro. “As pessoas têm interesse em conteúdo brasileiro, e as produtoras estão começando a trilhar um caminho exitoso em festivais e mercados internacionais“, comenta Quintas, ressaltando que Veneza vem coroar essas novas possibilidades para o cinema brasileiro.

Rubens Rewald, cineasta e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), reconhece que o audiovisual brasileiro ainda sente os efeitos das interrupções nas políticas culturais durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. No entanto, ele acredita que a tendência é que o país retome uma produção mais rica e diversificada. “Walter Salles talvez seja o mais internacional de nossos diretores, e também é significativo ter um cineasta brasileiro no júri”, destaca Rewald.

O coordenador do curso de cinema da FAAP, Humberto Neiva, compartilha uma visão semelhante, apontando que a presença brasileira em grandes festivais é uma continuidade da qualidade e relevância das produções nacionais. “Os festivais querem esse tipo de filme”, afirma Neiva, ao comentar sobre as temáticas importantes e urgentes abordadas pelo cinema brasileiro.

O retorno de Walter Salles ao Festival de Veneza com “Ainda Estou Aqui” gera grande expectativa, especialmente pela forma meticulosa com que o diretor constrói suas obras. Como mencionado por Quintas, “quem conhece o trabalho do Walter Salles sabe que ele faz filmes muito bem elaborados, com atores de destaque, então espero que traga reflexões importantes para o momento atual“.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: [email protected]

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