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Crítica Nosferatu 2024: contemplativo e enfadonho

Nosferatu (2024), dirigido por Robert Eggers, é um remake gótico que une atmosfera sombria e reflexões profundas sobre a condição humana.

A revisão de clássicos cinematográficos é sempre um desafio, especialmente quando o material original carrega consigo uma aura de reverência histórica. Nosferatu (2024), dirigido por Robert Eggers, tenta equilibrar a homenagem ao expressionismo de F.W. Murnau com uma perspectiva contemporânea. No entanto, ao optar por uma abordagem gótica contemplativa, o filme desafia as expectativas de um público acostumado com narrativas frenéticas e soluções simplistas, revelando-se um experimento artístico que é tanto ousado quanto divisivo. Assisti no último sábado (11), no Shopping Parangaba, em Fortaleza-CE.

Eggers, conhecido por suas obras anteriores como A Bruxa e O Farol, estabelece um estilo que mescla imersão histórica e atmosferas sombrias. Contudo, Nosferatu 2024 caminha em uma linha tênia entre a profundidade simbólica e o tédio narrativo, deixando muitos espectadores presos às suas ambições artísticas sem uma resolução emocional satisfatória. Este texto analisa como o filme se destaca visualmente, mas tropeça em sua tentativa de capturar a essência do terror clássico com um enfoque quase hermético.

Visualidade exuberante e atmosfera gótica

Um dos aspectos mais notáveis é sua direção de arte. Trabalhando com Craig Lathrop e o diretor de fotografia Jarin Blaschke, Eggers cria um mundo que é simultaneamente opressor e hipnotizante. O castelo do Conde Orlok é uma personificação da decadência gótica, com salões envoltos em sombras profundas, estátuas grotescas e cortinas que serpenteiam em luzes tremulantes de velas. Essa ambientação permite ao espectador imergir em um universo visualmente rico, que traduz com precisão o desconforto do desconhecido.

No entanto, essa mesma obsessão pela estética às vezes sacrifica o ritmo narrativo. Eggers parece tão empenhado em criar quadros perfeitos que o enredo — relativamente simples e baseado no romance epistolar de Bram Stoker — perde seu impacto emocional. A visualidade torna-se tanto um ponto alto quanto um obstáculo, distraindo do desenvolvimento dos personagens e de seus conflitos internos.

Interpretações de destaque, mas personagens desiguais

O elenco é, sem dúvida, um dos pilares do filme. Bill Skarsgård entrega um Conde Orlok grotesco e perturbador, equilibrando-se entre o terror e o ridículo com uma presença magnética. Sua interpretação captura a essência de um ser que é simultaneamente predador e vítima de sua própria existência, evocando elementos do Nosferatu original de Max Schreck e do Drácula de Gary Oldman.

Por outro lado, Lily-Rose Depp oferece uma performance cativante como Ellen Hutter, especialmente em cenas de transe e possessão que são coreografadas com intensidade quase teatral. Entretanto, o roteiro não dá a mesma profundidade a outros personagens, como Thomas Hutter (Nicholas Hoult) e Anna Harding (Emma Corrin), que acabam reduzidos a figuras de suporte para o arco central. Essa desigualdade enfraquece o impacto do drama humano que deveria sustentar o terror sobrenatural.

Crítica filme Nosferatu 2024
Foto: Reprodução

Uma metáfora para os tempos modernos

Eggers é conhecido por infundir suas obras com subtextos filosóficos e psicológicos, e Nosferatu 2024 não é exceção. O filme explora temas como solidão, abuso e a inevitabilidade da decadência humana, dialogando com as ansiedades contemporâneas sobre isolamento e relações tóxicas. Essa dimensão metafórica é uma de suas forças, permitindo interpretações que vão além do horror superficial.

Entretanto, a insistência em uma narrativa contemplativa pode alienar espectadores menos dispostos a investir na decodificação simbólica. Ao evitar um tom mais acessível, Eggers corre o risco de limitar o apelo de seu filme, deixando-o confinado a nichos específicos que apreciam o que muitos podem considerar um excesso de pretensão.

Esse é um filme que polariza. Sua estética impecável, performances marcantes e temáticas profundas fazem dele uma experiência rica para quem está disposto a abraçar sua abordagem mais lenta e introspectiva. No entanto, sua estrutura narrativa arrastada e a falta de um ritmo mais dinâmico podem tornar a experiência enfadonha para grande parte do público.

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Leandro Mendonça

Leandro Mendonça é o nosso Editor Chefe. Formado em Administração pela Faculdade Latino Americana de Educação (FLATED). Teve passagem pelo RD1 Audiência e site NaTelinha. Atualmente mantém ativo o Dicas Cel e o Guia de Perfumes, também parceiros do Portal N10.

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